terça-feira, 24 de março de 2009

Para o alto e avante(originalmente escrito em 05/08/2008)

Como costumeiro execrador de novelas , sua pieguice forçada e sua patética fórmula sempre usada sob uma tênue roupagem que a dona de casa não percebe , é com uma cara de total repugnância que inicio estas linhas , mas como apreciador do gênero super-heróico um leve sorriso esboça-se em meu rosto , diante de tal espetáculo facial , não queiram me ver agora.
A (argh!) novela "Caminhos do Coração"(2007-2008,240 episódios) e seu spin off "Os Mutantes - Caminhos do Coração"(2008-) ambas de Tiago Santiago e do diretor Alexandre Avancini tem créditos positivos em sua proposta.

Claro que muitos torcem e antes que se diga "Kukamonga" vão berrar no meu ouvido por que Caminhos do Coração é apenas um grosseiro plágio da série "Heroes"(2006-)de Tim Kring.

Estes que gritam esquecem ou desconhecem que Heroes tem uma ampla carga de claras inspirações em histórias em quadrinhos como "Rising Stars" , "Watchmen" , "Esquadrão Supremo" , a célebre "Dias de um Futuro Esquecido"(Days of Future Past,1981) de Chris Claremont e John Byrne para "X-Men" , a recente "Guerra Civil" , entre outras.

Os que acompanham a TV a mais tempo dirão que Heroes é a nova versão do seriado inglês "Os Seres do Amanhã"(The Tomorrow People,1973-1979,68 episódios)de Roger Price.

Esta por sua vez é baseada no grupo que protege a humanidade que o odeia , os X-Men.
Usando o literal "plágio" , vamos rever o caso do viciado pintor e quadrinista de Heroes que mostra o futuro através de suas telas , Isaac Mendez:Em 2007 o casal de artistas nova-iorquinos Clifton Mallery e Amnau Karen Eele entraram com processo contra a rede de TV estadunidense NBC , dona de Heroes , alegando que tiveram idéias plagiadas pelo seriado Heroes , mais exatamente do personagem citado.Mallery e Eele desenvolveram um personagem bastante similar em um conto, uma série de pinturas e um curta-metragem, que exibiram em Nova York entre 2004 e 2005.

É lógico que Caminhos se aproveita muito bem da alta de Heores , no entanto depois de assitir a algúns episódios e se livrar da impressão de estar vendo um Heroes "Made in Taubaté" , o apreciador do gênero super-heróico notará certa originalidade na mídia.
Pode ser que realmente não passe de um Heroes brasileiro , pode se dizer que é aí que a série acerta .Sua adequação ao meio nacional , bem diferente daquele sintetismo forçado de "Donas de Casa Desesperadas"(2007-) versão brasileira , entre outras versões latinas que Disney empurra , da até simpática "Desperates Housewives"(2004-)de Marc Cherry , aquela com a Lois Lane dos anos 90 , Teri Hatcher.A série das donas de casa tenta convencer que aquele cenário suburbano que parece saído de "Picket Fences" ou "Felicity" é tão brasileiro quanto a goiabeira do nhô Lau.
Muito bem produzido , mas a parsecs de distância do clima certo.

Em Caminhos ninguém tenta transformar São Paulo em New York ou algo similar como se faz em Donas de Casa que está longe do que se ve em nossa realidade , não que lobisomens sejam o cotidiano vigente , o fato é de que Caminhos não mascara e sim se adequa.
Quando assisto , e infelizmente faço isso com menos frequência do que queria , me é possível mentalmente encaixar a estória apresentada nas aventuras em quadrinhos dos super-heróis brasileiros dos anos de chumbo como "Raio Negro"(1965)de Gedeone Malagola

e "O Judoka"(1969 de Pedro Anísio , herói que inclusive ganhou filme , "O Judoka"(1973)de Marcelo Ramos Motta

E os pós modernos como "Pulsar"(1994) e "Força Ômega"(1994),

, o bom "Meteoro"(1987-)de Roberto Guedes ,

o surpreendente "Solar"(1998-1999)de Wellington Srbek e Ricardo Sá.

e "Nitron" do Reverbo Estúdios

É possível , na parte da viagem ao centro da Terra , ver um certo ar da hq italiana "Martin Mystère"(1982-).

Assim como a Clínica que remete ao projeto dos militares que construíram os meta-humanos do Pulsar de Arthur Garcia.
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Aposto que neste exato momento os possíveis leitores que leram e já digeriram o tópico dos heróis da era da ditadura querem berrar no meu ouvido , o motivo é compreesível , os heróis dos idos 60 e 70 eram quase exato genéricos do que se produzia do gênero em solo estadunidense.
Para começar , o Judoca foi criado para suprir as histórias descontinuadas no Brasil do personagem "Judomaster"(1965-) de Joe Gill (1919-2006) e Frank McLaughlin para a Charlton Comics.

Comprada pela DC em 1986 e tendo o personagem , como todo o universo Charlton incorporado ao seu.O caso Judoka foi mais ou menos como o dinâmico "Miracleman" ou "Marvelman"(1954-) com o "Capitão Marvel"(Captain Marvel,1939-)de C. C. Beck(Charles Clarence Beck,1910-1989), e Bill Parker(?-1963).

Raio Negro era um Lanterna Verde que usava uma variação do uniforme do Ciclópe dos X-Men.

E o super-herói mais famoso daqueles tempos o "Capitão 7" criação de de Rubem Bláfora para um seriado na TV Record onde alçou vôo de 1954 a 1966 tendo o atleta Ayres Campos(1923-2003) como o justo e poderoso herói.

capitão 7
Nos quadrinhos com 54 edições iniciadas em 1959 tinha a arte de artistas do calibre de Jayme Cortez(1926 —1987) e Júlio Shinamoto.

Bem , é óbvio que Capitão 7 (é "sete" mesmo , nada de "Capitão Seven") foi construído com o último filho de Krypton em mente , preciso dizer quem é?
O caso com a comparação de Caminhos com os heróis é a supracitada adequação ao cenário nacional , claro que com a censura comendo solta naqueles tempos em que Fred Flinstone ainda namorava a Vilma não permitia explorar este cenário com exatidão.
O Judoka , que ganhou filme em 1973 com direção de Marcelo Ramos Motta(1931-1987)e estrelado por Pedrinho Aguinaga que era famoso na época por apresentar um cmercial dos cigarros Chanceler("o fino que satisfaz",faça-me o favor...) , resolvia como dava questões de cunho social bem brasileiras.

Raio Negro apesar de ser mais afeito as estripulias cósmicas (como um bom Lanterna Verde)o alterego do Tenente Roberto Sales , piloto da FAB baseado no porta-aviões Minas Gerais.Raio Negro apesar do pouco envolvimento com a realidade , tirando as bofetadas em um ou outro marginal , não exagerava , como era de esperar o meio militar(bem , talvez a tecnologia da Barreira do Inferno mostrada na hq seja exagerada , nada que você não tenha visto em alguma história do quarteto) a que estava ligado , seria melhor juntar o exemplo de Raio Negro e Capitão 7 ao do recente Meteoro que apesar de ter inúmeras homenagens a hqs estrangeiras , o que inclui seu próprio Stan Lee , Roberto Guedes não tenta fazer da São Paulo , lar do heroí , uma outra Metrópolis .Aquela é São Paulo com todas as suas magnínificas atrações e seus repudiáveis defeitos , e Meteoro é tão paulista quanto o Homem-Aranha é cidadão da Big Aple e quanto Toha(o ninja Jiraya)é um desempregado vivendo de bicos em Tóquio.

Em suma é esta aclimatação de temas ao qual a maioria não está muito acostumada que é onde reside o charme de Caminhos.
Outras boa analogias: a série de curtas "France Five"(Jushi Sentai France Five,2000)de Alex Pilot , que adapta de maneira formidável a mitologia Super-Sentai para o território das boinas e golas rolês.

Malu Mader sendo a "Nikita" brasileira com um pouco de "Dama de Ouro"(Lady Blue,1985,12 episódios)do ótimo , que nem parece Globo , seriado "A Justiceira"(1997,12 episódios)de Antônio Calmon e Daniel Filho.

É , Dama de Ouro de John Florea(1916-2000) e John D. Hancock , a competente plicial Katy Mahoney(Jamie Rose)

já havia tido uma singela homenagem no oitentista "Armação Ilimitada"(1985-1988,de Guel Arraes e Mário Márcio Bandarra com Débora Bloch interpretando a policial casca-grossa com arroubos de Rambo , "Kate Machone" a temida "Dama de Couro" , não que esta minúcia tenha alguma importancia no assunto.

Outro bom exemplo são as obras com vampiros ambientados em locais e culturas adversas aquelas vistas no leste europeu como os malditos sanguessugas do deserto mexicano vistos em "Um Drink no Inferno"(From Dusk Till Dawn,1996)de Robert Rodriguez ,

ou , bem próximo a nós , a luta dos brasileiros contra os vampiros de André Vianco ,

ou ainda a concorrente nacional da "Vampirella" , a bela dentuça "Mirza , A Mulher Vampiro"(1967) de Eugênio Colonnese.

Diferente do que você possa estar pensando , costumo ser bem crítico , daqueles que baixam o sarrafo , com "inspirações" que resultam em equações como Superman=Capitão Marvel , Monstro do Pântano=Homem-Coisa , Namor=Aquaman e Rob Liefield=O que ver na frente. Uma elucidante revista do "Zé Carioca" contava como o caloteiro da vila Xurupita queria enriquecer com histórias em quadrinhos para isso faz o costumeiro plano que tem tudo para dar certo se não saísse da teoria , ao apresentar-se , com o pobre Nestor , a um editor diz "Preparece para presenciar o herói mais original que seus olhos já viram!"
O editor muio resignado em sua ingrata tarefa responde sarcásticamente:"Que maravilha , espero este momento de 1938."

Já a um certo tempo que ouso dizer que o catálogo de poderes a muito se esgotou e creio não é mais o ineditismo do poder que realmente vale para o apreciador do estilo super-heróico , mas sim a situação em que o super-herói , independente de sua habilidade , vai ter que lidar.Como em Miracleman que ao salvar uma criança em queda , sem calcular sua força e a queda do infante , quebra suas costelas , ou em "Watchmen" e "Ex Machina" que lançam a questão de como seria a realidade com um super-humano entre nós.

O já citado Pulsar questionava como o regime militar lidaria com os meta-humanos.
Isto tudo reforça o argumento de que o que importa é a ambientação , muitas mídias podem ter pessoas com superforça e cueca por cima da calça no entanto é a interação ao que a rodeia que tem relevância e Caminhos apresenta tal interação e Caminhos apresenta esta dita interação.

Espero ter salvado-me do baldaço de água fria do argumento dos que podem ver claramente em Caminhos uma Elektra , um Noah Bennet , um Flash e por aí vai.

Claro que nem tudo é perfeito , afinal de contas ainda é uma novela e como tal tem que agradar o público noveleiro convencional o que colabora para deixar o tom da trama por vezes folhetinesco.
Penso que é mais facíl e de maior aceitação na TV aberta fazer uma novela em vez de um seriado.
A este fato podemos colocar outro paralelo adaptativo já no meio noveleiro , a novela "Olho no Olho"(1993-1994,185 episódios)

escrita por Antônio Calmon e dirigida por Ricardo Waddington que era praticamente uma mescla de temas recorrentes a mitologia paranormal de escritores como Stephem King com a melação de Janete Clair .Creio que com ênfase no filme "A Fúria"(The Fury,1978)de Brian De Palma , baseado no livro homônimo de John Farris escrito em 1976.

Contudo , é provável que argumento algúm salve a audiência de novelas com temas que tentam escapar da mesmice da tradição noveleira convencional , com tramas que poderiam ser resolvidas no final do primeiro episódio mas são delongados para tirarem momentos domésticos preciosos por um ano inteiro.A baixa exigência dos expectadores deste tipo de mídia e a insistêmcia ao trivialismo resultam em resistência ao diferente , e por vezes inteligente , como na telenovela "Amazônia"(1991-1992,)escrita por
Jorge Duran e dirigida por Tizuka Yamasaki e Marcos Schechtman.
Em Amazônia a estória tinha dois pontos a conquista da floresta em finais do século XIX e o futuro corporativo de 2010.Com bons elementos de cyberpunk que não agradaram o público forçando uma mudança para um roteiro menos cerebral ,que resultou em "Amazônia-Parte II" com cenário apenas em 1899.
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Eu deveria agora dar um incentivo ao ato de assistir a novela , todavia não vou , já defendi uma (bléarg) novela e isso já é demais para mim , assista se quiser , com um olhar mais amplo e despreocupado e talvez aproveite-se de alguma coisa.


Até mais e que a força esteja com você.

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