terça-feira, 24 de março de 2009

O Presidente Negro(originalmente publicado em 12/12/2008).

Com certo atraso venho comemorar o fim da era Bushmas não tenho otimismo o suficiente para crer que foi o fim da distopia. O estrago já foi feito e os remendos levarão anos para surtir efeito, contando é claro que o novo presidente não seja um político convencional e faça o que prometeu, o que acho meio duvidoso para alguém que usa a cor da pela como bandeira.
Espero estar sendo injusto com o novo ocupante do salão oval.

Como de costume a eleição de um presidente de uma etnia injustiçada e ainda tida como minoria já foi antevisto pela ficção.
No livro "Down to a Sunless Sea"(1979), de David Graham(1919-1994)
, o presidente Booker T. Langford é o primeiro afro-americano a comandar a nação e o primeiro estadista a morrer na guerra nuclear que opaís enfrenta.Tem de lutar contra os desejos secessionistas da Georgia, das Carolinas, Alabama, e Mississippi.

Creio que o primeiro filme a tratar do assunto tenha sido o curta musical, e bem difícil de levar a sério, "Rufus Jones for President"(1933), de Roy Mack(1889-1962), onde um garotinho de sete anos é eleito presidente .

O menino presidente em questão foi interpretado por Sammy Davis Jr.(1925-1990), requisitado ator nos anos 50 e 60 e que mais tarde estrelaria, ao lado do cantor/ator canastrão Frank Sinatra(1915-1998), o cunhado do presidente Kennedy , Peter Lawford(1923-1984) e do usual parceiro de Jerry Lewis(o Jim Carey da época) ,Dean Martin(1917-1995), o popular grupo de entretenimento The Rat Pack.
Em 1960 o grupo fazia sua participação mais significativa na história do cinema com a versão original de “Onze Homens e um Segredo”(Ocean`s Eleven, 1960), de Lewis Milestone(1895-1980).

Talvez o primeiro filme a considerar seriamente um presidente afrodescendente ocupando a Casa Branca tenha sido "O Presidente Negro"(The Man,1972), de Joseph Sargent ,baseado no livro homônimo de Irvintg Wallace(1916-1990) e adaptado para o filme pelo idealizador de Além da Imaginação, Rod Serling.
Bem realizado e situado no contexto de sua época, o presidente Douglas Dilman era nada mais nada menos que James Earl Jones , mais conhecido como a voz de Darth Vader.

Indo para a ficção científica, onde a possibilidade era, e é , tratada com mais seriedade, talvez com exceção do Presidente Lindberg(o ex-lutador de luta livre, Tommy 'Tiny' Lister Jr.), da colorida realidade futura de "O Quinto Elemento"(The Fifith Element,1997), do francês Luc Besson .


Com grande margem de certeza, o mais popular presidente negro é o ponderado presidente Tom Beck, interpretado por Morgan Freeman no bom, mas com uma trilha sonora piegas e irritante, disaster movie “Impacto Profundo”(Deep Impact,1998) de Mimi Leder.


Pode-se ponderar que Freeman também é deus na comédia “Todo Poderoso”(Bruce Almighty,2003)e na continuação, onde pretende novamente inundar o mundo, “Todo Poderoso 2”(Evan Almighty,2007),ambos de Tom Shadyac - deus é tão inutil quanto o agora passado presidente - .

Outro governante muito conhecido é o presidente David Palmer (Dennis Haysbert) da série 24 Horas. Sua administração (2001-2005, ou seja: Primeira e segunda temporada mais o jogo “24: The Game , de 2006) foi marcada por uma postura presidencial cheia de afeição por assuntos tratados as escuras, o que o aproxima de seu congênere de menor talento e, infelizmente, real, George W. Bush.

Por falta de dados, a primeira mídia a tratar do assunto, o ainda polêmico exercício de futurologia de Monteiro Lobato(1882-1948), o livro “O Presidente Negro” ou “O Choque de Raças”(1926), mostra através de um pitoresco aparelho o “porviroscópio”.
Retirado da Wikipedia:
“Ayrton, desastrado cobrador da empresa Sá, Pato & Cia. sofre um acidente automobilístico na região de Friburgo (Rio de Janeiro) e é resgatado pelo recluso professor Benson, que o leva para sua residência. Ali, ele trava contato com a grande invenção de Benson, o "porviroscópio", um dispositivo que permite ver o futuro, e com Miss Jane, a bela e racional filha do cientista.
Através de Jane, Ayrton é posto a par da disputa pela Casa Branca nos Estados Unidos da América do ano 2228, onde a divisão do eleitorado branco entre homens (que querem reeleger o presidente Kerlog) e mulheres (que pretendem eleger a feminista Evelyn Astor), transforma o candidato negro, Jim Roy, no 88° presidente dos EUA.Gestado" (segundo a própria expressão de Lobato) em apenas três semanas em meados de 1926, "O Choque das Raças" foi escrito e pensado por seu autor como um cartão de visitas ao mercado editorial estadunidense, um cartão que lhe daria em troca "um saco de dólares" . Lobato havia sido nomeado adido comercial no consulado brasileiro em Nova York, e antes de assumir o posto, conforme explicou em carta ao amigo Godofredo Rangel, teve uma "idéia-mãe. Um romance americano isto é, editável nos Estados Unidos(...). Meio à Wells, com visão do futuro. O clou será o choque da raça negra com a branca, quando a primeira, cujo índice de proliferação é maior, alcançar a raça branca e batê-la nas urnas, elegendo um presidente negro! Acontecem coisas tremendas, mas vence por fim a inteligência do branco".”

O livro voltou a baila em 1996 em um ensaio publicado por Nola Kortner Alex onde discutiu-se o caráter "presciente" da obra de Lobato, no momento em que o general negro Colin Powell surgia como um possível pré-candidato à presidência dos Estados Unidos . A conclusão de Kortner Alex é que apesar do desfecho grotesco e do tom pessimista que permeia a obra, "O Presidente Negro" parece menos distante da realidade em fins do século XX do que no início dele. Alex cita como provas disso os massacres tribais em Ruanda, a "limpeza étnica" na Bósnia, a construção de um muro separando os Estados Unidos do México e até mesmo o fim de políticas afirmativas e de ajuda às mães adolescentes.
Alex conclui dizendo que "para o estudante de política americana bem como para o estudante de literatura e cultura brasileiras, todavia, uma leitura atenta do romance presciente de Monteiro Lobato delineia uma situação que faz com que o leitor recue da idéia de um homem negro como candidato para o mais alto posto nos Estados Unidos"

Recentemente, com a coincidência de dois pré-candidatos, um negro (Barack Obama) e uma mulher branca (a ex-primeira-dama que escreveu uma autobiografia incrivelmente maçante,
Hillary Clinton) disputando a Casa Branca contra um candidato branco (John Edwards e mais tarde o velhote John McCain), despertou a atenção da mídia brasileira para "O Presidente Negro" que, inclusive ganhou nova e caprichada edição.

Cuba está disposta a dialogar, aquele ditadorzeco xárope do Chavez também, é um bom sinal mas não acho que só isso garante um futuro muito promissor.
Temo que qualquer desleixo da parte de Obama (o que era muito comum no último presidente branco) de razão para que os imbecis da Ku Klux Klan façam uma passeata.
Em paralelo a tudo isto, merece menção o fantástico filme “A Cor da Fúria”(White Man's Burden ,1995)de Desmond Nakano, onde vemos uma realidade alternativa onde a classe dominante do ocidente é comandada pelos integrantes da etnia negra, em prol de uma minoria branca pobre e marginalizada.

Cor da Fúria é inspirado no satírico poema de mesmo nome de Rudyard Kipling(1865–1936).

E é precedido pelo seriado britânico produzido em preto e branco, “Fable”(1965) de Christopher Morahan para a BBC , onde mostrava uma Inglaterra paralela, negra e segregacionista com a mazelada pequena população caucasiana.

Usando A Cor da Fúria e Fable como premissa digo que não importa a cor de quem governa, a humanidade vai ser, para o bem ou para o mal, sempre a mesma.
Fazer alarde com a etnia alheia é coisa de país atrasado.

Que a força esteja com você.

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