quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Abaixo das Cerejeiras - Zuko e seu tio Iroh

Cena do episódio "O Estado Avatar"(The Avatar State, 2006), de Giancarlo Volpe para a série animada "Avatar: A Lenda de Aang"(Avatar: The Last Airbender, 2005-2008, 961 episódios), de Michael Dante DiMartino e Bryan Konietzko

Pela Honra de Grayskull !!! Parte 2

Assim como o irmão, She-Ra teve mini HQs lançadas pela Mattel, na primeira leva de brinquedos, não havia um Hordak ou a Horda, a única adversidade para a princesa era a presença de Felina (Catra),

que também era a principal vilã nas mini-HQs, "The Story of She-Ra"(1985), que também mostrava a origem da guerreira e, pela razão de Felina e outros, diferia sensivelmente de O Segredo da Espada Mágica.
Para a animação, Felina, de principal antagonista, passa a ser, embora pertinente, apenas mais uma integrante da Horda.


Parte do elenco vilãnico da graciosa filha de Eternia já havia debutado no livro "He-Man and the Asteroid of Doom", publicado em 1986 pela editora britânica Ladybird, onde Hordak e a Horda pelo belo traço de Robin Davies, que obviamente se baseou no estilo da Filmation.

A arrojada HQ britânica "Master of the Universe" já havia dado os primeiros vislumbres de Hordak com suas próprias interpretações de sua mão robótica,
que parece ter sido base para o braço-canhão de do líder decepticon, Megatron.

Não demorou muito para She-ra também passar a figurar na revista britânica,onde, através de "The Secret Files of Scrollos", que guiava o leitor através dos recônditos de Master of Universe, muitas vezes trazendo personagens que mais tarde seriam adaptados para contracenarem com She-Ra, como Scorpia.
"The Secret Files of Scrollos" perambulava pelo passado displicentemente.
Mesmo com a estréia de She-ra, os arquivos de Scrollos dinamicamente trazia a tona as origens de personagens de importância cabal, que a TV ignorava. O He-Man das mini-HQs, que acompanhavam as figuras de ação, também já conhecia e combatia arduamente Hordak e sua Horda.
Pouco depois da estréia de She-ra na TV, a HQ por vezes mostrava os heróis de Grayskull inter-cambiando a luta contra o déspota de Ethéria e o flagelo de Etérnia.

O personagem Hordak, criado por Roger Sweet(que afirma ter tido a idéia a partir de uma máscara africana), e seus asseclas foram introduzidos na linha de brinquedos de Masters of the Universe em 1985 para dar novo alento ao herói que teria que enfrentar toda uma nova armada de inimigos,
como mostrado na mini-HQ "Hordak: The Ruthless Leader's Revenge!". Também são nestas mini-comics que temos os primeiro insights da antiga cumplicidade de Hordak e seu ex-pupilo Esqueleto.
Creio que o conceito da Horda já havia nascido com a primeira versão do Esqueleto,
em especial a action figure original de 1984, o "Battle Armour Skeletor", tendo em seu peito um morcego estilizado, próximo ao simbolo da ainda não nascida Horda, que no início também almejava o poder de Grayskull.
As contrapartes das embalagens cartonadas das figuras de ação eram em geral muito sugestivas.
No número 66 da sempre vanguardista HQ britânica Masters of the UniverseTalvez, uma união das forças malignas é mostrada, com direito ao antigo pupilo Esqueleto salvar da morte certa seu ex-mestre Hordak,no mesmo número é mostrado a disputa dos dois vilões pela Espada do Poder,a qual Hordak também ambicionava.O fato é de que muito dos elemento que foram usados em She-ra, em especial os vilões, não tiveram espaço para He-man para os quais foram originalmente criados, outros figuraram nos dois mundos defendidos pelos poderosos gemeos, como o personagem Dragão(Dragoon), primeiramente criado para integrar as forças de Esqueleto, no episódio "Aurora do Dragão"(Dawn of Dragoon),
mais tarde a criatura figura o episódio Entrando na Dimensão Escura"(Into the Dark Dimension).
As equipes criativas, como em He-man, também poderiam recorrer aos veios mitológicos e literários, a exemplo das "Minas de Mondor" (Mines of Mondor), obviamente referencia a Mordor tolkiana,ou a gigantesca Melog, vista em "Inimigo com Meu Rosto"(Enemy With my Face), que nada mais é que Golem, estátua animada recorrente no credo judaico. Penso que o elemento mais original de She-Ra , fosse a própria She-Ra, que além de ter sido concebida como He-Ra poderia ter um aspecto diferente. Segundo os storyboard do primeiro episódio de She-Ra, "Em Etéria" (Into Etheria, que era a primeira parte do filme) feitos pelo artista Don Manuel, She-Ra seria uma morena com menos roupa e visual ainda mais puxado para uma Valkiria,
como as damas guerreiras de Frank Frazeta(1928-2010).Don Manuel parece ter sido influenciado pela silenciosa loira "Taarna" que nomeia um dos seguimentos do então recente e superestimado longa de animação "Heavy Metal - Universo em Fantasia"(Heavy Metal, 1981), dirigido por Gerald Potterton
Manuel também havia planejado um Arqueiro menos Freddie Mercury, e mais ligado aos quadrinhos que vinham com as action figures.

Este Arqueiro é resgatado e muito bem explorado por Bruce Timm(Da elogiada série animada de Batman) para a graficamente excelente mini-HQ "Adventure of Blue Diamond"(1986).
Tanto quanto em He-man, os companheiros de luta da princesa do poder formavam um pitoresco time,
a começar pelos responsáveis pelo humor na série, a atrapalhada bruxa Madame Rizo(Madame Razz) e Vassourito(Broom), Madame Rizo remete ao visual da Hanna-Barbera para o personagem Esquilo Secreto, da série animada "Esquilo Sem Grilo"(Secret Squirrel, 1965-1968, 26 episódios).
Já Vassourito parece descender das vassouras amotinadas do segmento "O Aprendiz de Feiticeiro"(The Sorcerer's Apprentice), de Paul Dukas para o fantástico longa animado, e obra máxima da Disney, "Fantasia"(1940).Por sua vez, Vassourito também parece ter sido a inspiração para o castiçal do modorrento "A Bela e a Fera"(Beauty and the Beast, 1991), da mesma Disney.Havia também a heroína com poderes glaciais, mas de temperamento quente, Gélida(Frosta), mais uma versão de heróis com poderes relacionados ao gelo.
No episódio "Neve Negra"(Black Snow) - logo abaixo -, da segunda temporada, é aparente que a influencia para Gélida é o Homem de Gelo dos X-Men, mais especificamente de sua versão para animação "Homem-Aranha e Seus Amigos"(Spider-Man and His Amazing Friends, 1981-1982, 24 episódios), da antiga Marvel Productions.
A mesma comparação entre a heroína do gelo e o mutante de poder glacial foi apontado pela revista Cereal Geek em sua primeira edição em 2007.
Corujito(Kowl) e Geninho(Loo-Kee) supriam o papel que em He-man era de Gorpo, Corujito, um exótico híbrido de pássaro e mamífero, era covarde com alguns arroubos de coragem, perfil psicológico freqüente na animação. She-ra ao mesmo tempo em que era original seguia a cinética das séries animadas da época, a psicologia diz que o cérebro humano sente-se mais confortável com o familiar. A esta altura She-Ra era um sucesso incontestável, a poderosa amazona já era tão famosa em meio ao público infanto-juvenil feminino quanto a robusta boneca Barbie, a qual a empresa/casa da boneca se rendia ao merchandising de She-ra.

A coordenadora da série Dori Littell-Herrick(que também foi coordenadora de animação dos "Exterminadores de Fantamas"), lembra que a Princesa do Poder, era um derivado direto da série He-Man, que nesse tempo a protagonista feminina era Teela, filha de Mentor, que era uma grande e valente guerreira, mas era impulsiva e pouco afeita a estratégia, por esta razão estava sempre se metendo em encrencas.
Inicialmente pensou-se em criar She-Ra como uma outra Teela, mas, felizmente, She-Ra surgiu como uma personagem mais maternal, creio que mais adequada para as meninas.
She-Ra era uma soldado tão valorosa quanto Teela, mas ao contrário desta, She-Ra era bem mais madura e moderada, e com um grande gênio tático, que por vezes a levava a reflexão sobre o futuro da luta rebelde.
Seguindo a lógica das diferenças, todos os poderes do irmão da princesa eram baseados na força bruta,
de fato, She-Ra, é a mulher mais poderosa do universo, no entanto, seus poderes parecem mais ligados ao planejamento de campo, em pról disso a diferença das espadas estava para além da jóia incrustada, a Espada da Proteção se moldava a necessidade de sua portadora, podendo se transformar em escudo, corda, bumerangue, e vários outros objetos conforme a necessidade da ação.
O "mascote" de She-Ra também estava aquém do felino do irmão, o cavalo falante Espírito(Spirit), que com o raio da Espada da Proteção, no mesmo processo por que Pacato passava , transformava-se no pégaso Ventania(Swift Wild).
Alias, o decênio de 80 adorava eqüinos, pois proporcionou um verdadeiro desfile equestre, como os pequenos hipomorfos da franquia "Meu Querido Pônei(My Little Pony, 1982-), da Hasbro,
Starlite (cuja crina e cauda pareciam a bandeira do orgulho gay), das cores berrantes da franco-nipo-americana "Rainbow Brite"(1984-1986), da Hallmark Cards,
e terminando o páreo com um salto de um rancho de Montana para o planeta extradimensional de Dar-Shan do "Cavalo de Fogo"(Wildfire, 1986), da Hanna-Barbera.
O mal que She-Ra e seus amigos combatiam também diferia do de He-Man, enquanto o bárbaro a qual a guerreira mantinha vínculo de sangue degladiava com o clássico vilão que quer dominar o universo, o que poderia deixar aberto a questões de por que nunca se dava um fim em Esqueleto, He-Man era uma espécie de autoridade protegendo a ordem instituída em Eternia, She-Ra era componente de um grupo rebelde que em nome da liberdade que queria subverter a ordem vigente, dependendo da forma que os rebeldes fossem retratados, esta luta poderia durar indefinidamente.
Como um Robin Hood que se baseia em Sherwood, She-Ra e o grupo rebelde protegiam-se na Floresta do Sussuro.
Enquanto o carismático bárbaro se apoiava no Castelo de Grayskull, She-Ra tinha a fortaleza celeste, o Castelo de Cristal(The Crystal Castle),guardado pela misteriosa entidade mágica Esperança de Luz(Light Hope).
Está entidade, uma coluna luminosa cujos poderes reais jamais foram apurados, parecia ser uma versão benevolente do vilãoPrograma Master Control(ou MCP), do clássico cult "Tron: Uma Odisséia Eletrônica"(Tron, 1982), de Steven Lisberger para a Disney,
Esperança de Luz pega outro detalhe de Tron: o visual da luz que representava o contato com o usuário da grade/realidade que adentra Kevin Flynn.
Como He-Man, She-Ra, o universo e seus habitantes que a rodeavam também não haviam vindo do nada, Geninho, cheio de boas intenções, as quais acabam metendo Adora e seus amigos em pelo menos metade dos problemas que compõem a série,

- o mesmo que fazia Gorpo em He-Man, Geninho, e Gorpo, era uma versão amenizada de
Bat-Mirim(Bat-Mite) -.
vinha de uma espécie própria e extremamente pacífica e ingênua, embora dotada de razoáveis poderes psiônicos, talvez fossem essas qualidades inerentes a raça que o metia em tantos apuros. Os poderes de Geninho, bem como sua limitação, chegaram a ser bem explorados no episódio "Geninho dá uma Mãozinha".A dócil criatura tinha uma espécie de contraparte maligna em Pingo(Imp), e tão poderosa quanto geninho.Assim como mais tarde seria com a influente série 9° lugar no ranking das 25 melhores série dos anos 90, "Xena, a Prince Guerreira"(Xena: Warrior Princess, 1995-2001, 134 episódios), de Robert Tapert (de Darkman) e John Schulian(de Jag - Ases Invencíveis), que continuou fazendo sucesso mesmo depois que a série-fonte "Hércules"(Hercules: The Legendary Journey, 1995-1999, 111 episódios), de Christian Williams(de Sliders - Dimensões Paralelas).a luta de She-Ra e seus rebeldes prosseguia de forma solo, após o cancelamento de He-Man e os Defensores do Universo em 1985.
Deve-se ser lembrado que Xena(vivida pela neozelandesa Lucy Lawless), também começa como vilã nos episódios "A Pricesa Guerreira(The Warrior Princess, 1995) e "O Desafio"(The Gauntlet, 1995), para mais tarde ser uma grande e íntegra heroína.
Adora seguia em frente contra Hordak e sua Horda, enquanto He-Man e esqueleto ficaram para trás, o tempo havia provado que a consultoria da Filmation era formada por um bando de incompetentes que não reconheceriam uma menina nem que essa desse uma espadada em suas cabeças.
A inadequada consultoria foi, felizmente, ignorada pelos roteiristas que conseguiram dar um tom de ação a uma mídia para meninas e ainda assim deixa-lá intrinsecamente feminina . A desobediência da equipe deram a She-Ra movimentos leves, a luta poderia ser equiparada a um elegante balé, mas de forma que ela continua uma personagem forte .
Mesmo a identidade de She-Ra era mais convincente que a de He-Man, que se protegia sobre o alter-ego do bem nascido , despreocupado e covarde principe Adam, um estereótipo fácil e não muito diferente do super-herói convencional, que costuma agir como um tolo.As personagens de She-Ra e Adora, foram idealizadas como personagens independentes como se fossem irmãs e não eram exatamente a mesma pessoa, possuindo cada uma características diferentes, como declarou o roteirista Francis Moss(de CatDog e Gobots), Adora, psicologicamente não era She-Ra, e vice-versa.
She-Ra era heróica e audaciosa, enquanto Adora, embora fosse bem ativa, era mais cautelosa, mas também podia fazer várias coisas impetuosas. He-Man era praticamente inútil como Adam enquanto Adora era competente e esperta, fruto de uma vida soldadesca, seu desenho favorecia suas qualidades a exemplo de seus olhos bem vivos e expressivos, também presentes como She-Ra.Alias, os olhos - como se diz "as janelas da alma" - eram um recorrente expressivo muito bem utilizado, como o mestre Chuck Jones(1912-2002) fazia para a mostrar a certeira agonia e expectativa de dor pelos tristes olhos de Wile E. Coyote ao cair de um penhasco ou ser pego por suas próprias armadilhas,mais do que em He-man - talvez pela crença de que mulheres são mais sensíveis a emoções - os olhos eram um sucesso ao retratar todo um catálogo de estados emocionais dos personagens.

He-Man não parecia ser exatamente Adam com poderes e parecia não ter muita ciência a respeito deles, mas com certeza She-Ra era Adora com poderes, consciente de si mesma, como uma estrategista aceitava o poder que tinha em mãos.
Como uma mídia feita pensando nas meninas, por esta razão também foi criado uma espécie de interesse romântico para a personagem central , porém, talvez pela censura ou para não estragar a índole de guerreira, esse interesse era platônico, a figura do Arqueiro servia para nutrir aquela necessidade feminina de assistir comédias românticas do tipo "assistir uma é ter visto todas"(não creio que exista outro tipo de comédia romântica).
A relação de Arqueiro e She-Ra era de profunda amizade, mas o que a TV mostrava era que os dois estariam prontos para outro nível de relação, se fosse o caso.
Claro que se pode questionar o caso de Adora com Águia do Mar(Sea Hawk).
Em 5 de Dezembro de 1987 era exibido o último episódio da série da Princesa do Poder, totalizando 93 episódios divididos em duas temporadas, a série animada que igualou o jogo, agora meninos e meninas podiam erguer a espada e dar um brado de guerra sem gerar conflito uns com os outros.
Com She-ra as próximas heroínas ganhavam mais terreno e pouca estranheza, uma igualdade quanto a sua capacidade no campo de batalha declarava uma feliz paz na inútil guerra dos sexos.
Mesmo a grande surpresa que trazia a revelação que o guerreiro que combatia os Metroids era na verdade a loira Samus Aran, era rapidamente aceita como tal.
Vôos mais altos eram dados, a década corrente trazia de volta e firmava o feminismo que cambaleava em outras décadas, poder para as mulheres, a revelia She-ra não era exatamente um icône feminista, mas sim igualitário.
Com She-ra a idéia de que sensibilidade é o caminho da fraqueza não fazia o mínimo sentido.Na esteira do sentido da igualdade e mais dramática do que seria Xena, a série Dama de Ouro(Lady Blue, 1985-1986, 13 episódios), destacava-se por colocar a policial Katy Mahoney em um mundo corrupto e claramente machista, Mahoney não se intimidava mesmo nas mais críticas situações, partindo para cima da vilania como a própria fúria da justiça.
O fato de Mahoney ser mulher não impediu a personagem de passar por toda sorte de perigos, dando ao programa o status de ser o mais violento da TV estadunidense na época.
A Dama de Ouro foi só um dos exemplos de mulher forte que despontava diretamente na esteira de She-ra , o tempo que comprova os acertos e fracassos, mostrava o acerto do investimento no que seria um dos mais inesquecíveis icônes na agradável silhueta feminina já realizados, despontando um início para o que seria merecidamente cotidiano, mulheres com poder pleno próximo a uma igualdade ainda não vista na realidade.
O braço forte de um bárbaro foi o primeiro passo, a inteligência e sagacidade de uma bela guerreira mostraram o caminho.
Até mais e que a força esteja com você.