terça-feira, 22 de maio de 2012

Yo Joe!!! História da Tropa - parte 1

Confesso que esperei muito pela adaptação dos velhos Comandos em Ação. Porém quando vi o nome de Stephen Sommers associado a direção do filme, a ânsia para assistir o espetáculo transmutou-se para o agoniado testemunho do fracasso, a perspectiva não mudou com o anúncio do segundo filme.
A sigla G.I. era "carimbada" em todas as caixas com mercadorias do governo (Government Issue, ou assunto do governo) na época da Segunda Guerra Mundial. Joe é um nome comum que pode ser aplicado a qualquer soldado estadunidense, da mesma forma que Tommy era a aplicação para os ingleses. G.I. Joe era como os sargentos chamavam a massa de subordinados que não tinha tempo ou preocupação de decorar cada nome, para resumir G.I. Joe era o soldado raso a sigla na frente de seu "nome" dizia que todos os aspectos de sua vida pertenciam ao país.
Nas ondas doutrinátorias do pós-guerra estréia o filme "The Story of G.I.Joe"(1945), dirigido por William A. Wellman(1896-1975) e escrito a duas mãos por Leopold Atlas(1907-1954) e Guy Endore(1900-1970).
O filme mostrava o correspondente de guerra Ernie Pyle, que também era narrador da pelícola, acompanhando os bravos homens da Compania C da 18° Divisão de Infantaria em seus combates contra os alemães no norte da Africa. Pyle foi vivido por Burgess Meredith (1907-1997, o Pinguim da série camp "Batman" e o treinador Mickey Goldmill de Rocky), e que mais tarde faria em "Comandos em Ação: O Filme"(G.I. Joe: The Movie,1987), de Don Jurwich, a voz original do reptiliano Golobulus.
Em 1963, Stan Weston, inspirado pelo filme de Wellman e encorajado pelo seriado de TV chamado “O Tenente”(The Lieutenant,1963-1964), do pai de "Jornada nas Estrelas", Gene Roddenberry(1921-1991), decide levar sua idéia de criar soldados articuláveis para o designer da Hasbro, Don Levine. Levine, que já estava bem motivado pelo sucesso da loira Barbie, une-se a equipe de Weston e juntos começam a desenvolver a idéia dos Joes com a patente # 3,277,602, cunhando o termo "action figure" - para atrair a atenção de garotos e impedir gracejos sobre estes brincarem de boneca - e mudando para sempre a história da indústria de brinquedos.
A empresa mostrava uma perene preocupação com as possíveis cópias ilegais dos seus bonecos soldados, visto que é impossível registrar o corpo humano o jeito foi trazer dois elementos pecualiares nos Joes – a cicatriz na bochecha direita, e o inusitado posicionamento da unha do dedão da mão direita, está colocado na parte de dentro do dedo, se outro brinquedo aotasse estes detalheas infringia diretamente os direitos da Hasbro.
Enquanto meninas zelam por suas casinhas, bravos meninos - que não sabem o que é realmente uma guerra - iriam para os campos de batalha. Os G. I. Joes traziam militares profissionais, embora tenham tido um princípio humilde, como representações das quatro forças armadas, havia o Action Soldier (Exército), Action Sailor (Marinha), Action Pilot (Força Aérea) e Action Marine (Fuzileiros Navais),
logo passaram a ser caracterizados nas mais variadas funções da classe e equipados com todo o mais avançado aparelhamento bélico de seu tempo, muito embora tenham conseguido apenas um Jipe com um canhão 105 mm em 1965, a partir de 1967 a corporação de brinquedo ganhava caças e helicópteros. Logo a ideia ultrapassa os mirrados protótipos que se chamavam Rocky the Marine, Skip the Sailor e Ace the Pilot - vendidos pela volumosa quantia de US$200.001,00 em um leilão, realizado em 2003 - .
O sucesso dos soldados de brinquedo se traduzia em números, até 1966 já haviam sido feitos 75 lançamentos, inclusive com clubes oficiais para fãs compradores das figuras de ação,
levando a Hasbro a ousar projetos não tão ortodoxos como a primeira personagem que despontava na era da queima de sutiãs, a militar feminina, G.I. Nurse. Jane, diferente dos Talk Commander do ano seguinte, foi um completo fracasso em sua época - para hoje se tornar uma das figuras mais valorizadas e disputada a tapa por colecionadores - .Originalmente as etnias da soldadesca não variava muito: em quatro cores de cabelo: Loiros, ruivos, castanhos e pretos. As cores dos olhos mudava conforme o cabelo, olhos castanhos para cabelos loiros e castanhos, olhos azuis para ruivos e cabelos negros. Ainda em 1965 um G.I. Joe negro foi lançado, não passava simplesmente de um boneco caucasiano feito em plástico marrom-escuro, pois era patente a falta de detalhes étnicos. Em 1967, europeus e asiáticos enriqueciam as tropas - na verdade apenas as cabeças das figuras de ação eram feitas em moldes diferentes - com a coleção “Action Soldiers of the World” – com bonecos dos exércitos alemão, britânico, russo, australiano, canadense, francês e, hoje extremamente raro, soldado imperial japones.No final da década com o auge dos protestos contra a carnificina no Vietnã, o furor das figuras de ação de cunho soldadesco caía, a Hasbro então revia seus conceitos, que renderiam frutos no meado da era sintética, os anos 70. Em 1976 apesar das ótimas vendagens, a Hasbro decidiu descontinuar as aventuras dos Joes para dar lugar aos insossos e esquecidos "The Defrenders", para logo deixá-los de lado como uma tática sem efeito para o esperado retorno dos G.I. Joes. Os Joes então enbarcavam nas vertentes da época, com a popularização do cinema de artes marciais, em especial o Kung Fu.
A mesma guerra controversa guerra colocava os Comandos norteados para um campo maior que o do front. O Adventure Team era criado explorando a aventura da exploração e do resgate, daí os primeiros bonecos com barba, o cabelo, antes uma simples pintura sobre o plástico, agora era constituído de material próprio dando mais veracidade a figura .
Com todos os movimentos marciais embalados por estridentes gritos surge, em 1974, o Kung Fu Grip, onde as tropas mais treinadas, em especial o Adventure Team, tem a mão imitando, por convenção, um golpe Kung Fu. O Adventure Team tinha efetivos prontos para agir em qualquer canto do planeta, seu raio de ação chegava a órbita da Terra. A equipe de aventureiros incluía Aventureiro, Aventureiro do Ar, Aventureiro de Solo, Aventureiro do Mar e o Homem de Ação.No ano em frente, com o estrondosos sucesso de "O Homem de 6 Milhões de Dólares"(The Six Million Dollar Man, 1974-1978, 108 episódios), de Kenneth Johnson, baseado na novela "Cyborg"(1972), de Martin Caidin(1927-1997), os Comandos ganhavam um novo aliado, Mike Power, mais conhecido como Atomic Man. Fabricado pela Mattel, Power batia de frente com Steve Austin - do qual a Hasbro não havia conseguidos comprar os direitos para fazer uma action figure -.Em 76 com, a nova queda nas vendas, a Hasbro já tinha certa experiência com as quedas de mercado e os soldados são novamente recriados, entra o personagem, o primeiro super-humano, "Bulletman" além da série "Eagle Eye", que debuta com seus olhos que perscrutam em todas as direções ao se mover uma diminuta chave atrás da cabeça. Guerras amealhavam o globo, como ainda o é, e os Joes como uma força que não servia como uma crítica a realidade vigente eram guerreiros sem um inimigo de mídia declarado, ou só tinham inimigos conforme a criança (ou adulto) que o comprava. Então surgem os aliens com biotipo de Neanderthal e com braços que apertavam conhecidos como "The Intruders". Com um inimigo em especial, os comandos chegavam mais perto do que conhecemos hoje.Enquanto isso, no país, onde o governo eram os militares, chegava as lojas o glorioso combatente "FALCON, o herói de VERDADE!", era a primeira alcunha brasileira para os Joes, que na verdade eram os componentes do Adventure Team.Devido à crise mundial do petróleo que se prolongou pelos anos 70 - que fez o preço do plático se elevar forçando a suspensão da fabricação das acion figures em 1978, só sendo retomada em 1982 - , a Hasbro, viu-se obrigada a estender sua franquia ao exterior, fazendo do Falcon o batedor da era dos bonecos de plásticos, nunca se rendendo ao ardiloso Torak (inimigo criado pela empresa de brinquedos Estrela, empresa cujo símbolo lembra a bandeira da OTAN) e sendo o início da tomada do mercado de brinquedos nacionais pelos aqui chamados Comandos em Ação.Assim como outros heróis de seu tempo, como "Ultraman 80"(1980-1981, 50 episódios), da Tsuburaya Productions,
o Falcon 80 saudava a nova década.
Em 1982, com a crise superada e com as action figures de 10 cm de Star Wars rendendo bilhões, os Joes passam por uma redefinição quase que definitiva, a união da Hasbro com a Marvel Comics no mercado de produtos licenciados, que além de uma nova leva de brinquedos, dava origem a HQ "G.I. Joe - A Real American Hero",
mesma denominação da nova linha, dando ênfase a história particular de cada personagem e apresentando outros tantos.
Os Cobra eram os vilões perfeitos e suas origens vem da experiencia de seu criador. O roteirista Larry Hama conhecia a natureza da guerra, talvez este fator tenha sido decisivo no sucesso da HQ dos Joes - a seguir - , tendo servido o Corpo de Engenheiros durante o Vietnã, ele sabe como uma arma funciona e o que ela faz, diferente da produção para a TV já contida pela censura. Hama também fez pequenos papéis na premiada série M * A * S * H(1972-1975, 251 episódios) .Tais experiências, afora seu grande e excelente currículo no meio quadrinístico, lhe deram um grande senso crítico e criativo, o que pode ser visto na HQ "Conflito no Vietnã"(The Nam, 1986-1993), da qual era editor,foi um passo para criar o Comando Cobra, originalmente desenvolvido a partir da organização terrorista de caráter neo-nazista do universo Marvel, a "HYDRA". A HYDRA, criada por Stan Lee e Jack Kirby (Jacob Kurtzberg, 1917-1994), para a Strange Tales #135(agosto de 1965),
foi recauchutada por Hama para ser a verossimilhança do que se esperava de sua época, a moda do terror fanatizado do oriente com uniformes alemães de uma época inglória.
Hama também foi o responsável por todos os filecards de Real American Hero dos primeiros 10 anos da franquia.Aqui também cabe ressaltar coincidencia, Larry Hama, estava desenvolvendo para a Marvel uma nova HQ intitulada Fury Force, com lançamento previsto para o final de 1982.(Criação de JoeCanuck.com, sobre os originais de Hama, exibido na convenção canadense Joe Con de 2009)

Hama usaria um grupo de soldados, reunidos pelo filho de Nick Fury, para lutar contra os terroristas da HYDRA em uma espécie de atualização do Comando Selvagem. Jim Shooter, na época editor-chefe da Marvel Comics - e conhecido por matar Jean Grey no final da Saga da Fênix Negra-e que havia tido uma conversa amigável com o presidente da Hasbro - após ter trombado com este no banheiro de uma festa beneficiente - , perguntou a Hama se ele não gostaria de adaptar o conceito para a franquia G.I. Joe, a Hasbro recebeu o conceito com entusiamo, contrariando sua primeira premissa de que figuras vilanescas não teriam futuro no mercado. A Marvel Comics ainda ofereceu outra recomendação, para a Hasbro, que personagens femininos fossem lançados, em conjunto com veículos, tal como as belas modelos das feiras de automóveis e revistas automotivas, coisa que a Hasbro não seguiu, mas também não subestimava suas polivalentes soldados mulheres. Cada action figure viria com uma pequena biografia em sua cartela, os lendários “File Cards” – todos escritos pessoalmente por Larry Hama pelos primeiros 10 anos. Entre o batalhão de novas figuras de ação estavam os ninjas, tal como foram as ondas de mídias com alienígenas nos anos 1990 ou as com zumbis hoje. Os Joes traziam o ninja de negro sargento Snake Eyes, embora sua primeira versão só o aponte como um operativo Delta.
Logo o silencioso comando ganhava um rival, o assassino nipo-americano Thomas S. Arashikage, conhecido como Storm Shadow, criado por Larry Hama especialmente para a HQ.
Com uma vasta e crescente galeria de personagens, outro advento do Real American Hero era o surgimento da nemesis dos Comandos, a organização terrorista Cobra, também constituída de personagens bem detalhados.
Com poder e organização superiores aos já esquecidos Intruders, os Cobra travavam com os Joes um duelo que se localizava bem acima das picuinhas da então corrente Guerra Fria - levando em conta que os finados Intruders eram a paródia frequente aos comunistas, coisa que os Cobra, ou Cobra Comando, nunca conseguiram ser - .
Com a melhora no detalhamento das figuras de ação e sua constante inovação na variedade de veículos e equipamento militar os Comandos tomavam de assalto as mais diferentes mídias.

Em reconhecimento ao trabalho de Hama para com os Joes a Hasbro cria em 1987 o comando especialista em demolição Tunnel Rat, concebido com as expressões faciais de Hama.Em 1983, um ano antes de Falcom dar lugar aos Comandos em Ação no Brasil, as animações usadas nos comerciais dos brinquedos eram soberbamente assistidas por crianças e adultos, em vista disso, estreava na TV a mini-série "G.I. Joe: A Real American Hero" ou apenas "G.I. Joe", em 5 episódios em que pegava parte do plot da HQ do acordo Hasbro/Marvel, com roteiro de Larry Hama. Para as crianças que podiam ter os brinquedos, assim como para as que não podiam, era o início do combate real .Com um bom foco na ação, roteiro bem delineado e principalmente a cinética dada a uma vasta gama de personagens já conhecidos, a mini-série foi o batedor de uma série regular que aportava em 1985 em uma co-produção Estados Unidos/Japão.
Com os bons roteiros de Denny O'Neil, o grupo militar liderado por Duke, bradando "Yo Joe!!!", se empenhava em barrar o grupo terrorista Cobra, seus 85 episódios(exibidos entre 1985 e 1986) não davam conta de explorar todos os personagens, forçando algúns a fazerem apenas "pontas" em um ou outro episódio, incluindo a volta dos repaginados Skip, o marinheiro, e o piloto Ace.Assim como acontecia na franquia Transformes, também da Hasbro, e na pequena onda japonesa das pistolas Zillion,a animação, aliada ao resto do meio midiático, se tornava a mais eficiente propaganda que um brinquedo poderia ter, apresentando novas idéias para mais brinquedos de uma linha em franca expansão.Com a ingerência do governo Reagan no plano internacional transformando os eventos "Contra" em palavra da moda, o reaquecimento da Guerra Fria e aliando as evidentes multifunções da tropa de Joes os deixava bem equidistantes de uma unidade homogênea e legalizada, dando aos velhos soldados um ar de guerrilheiros que os encaixava nas condições políticas da época.A animação também entrava e se encaixava perfeitamente no conjunto de mídias de cunho ideológico intrínseco a administração Reagan e sua chauvinista e desastrosa política externa, caracterizada pela testosterona e pólvora que queria varrer e ignorar para sempre a Síndrome do Vietnã, assim como formar uma nova geração de garotos sonhando com o serviço militar e ignorar os erros cometidos pela geração anterior.
Continua

0 comentários:

Postar um comentário