segunda-feira, 25 de maio de 2009

Carinhas Felizes e Relógios do Juízo Final

Finalmente aconteceu, a melhor e mais aclamada de todas as HQs foi adaptada para o cinema e se deu certo mesmo sem o apoio de Alan Moore? Questão de opinião, a minha é que poderia ter dado.
Depois de dois decênios sob a ameaça de realização de uma adaptação muito mal-feita ou muito insatisfatória, segundo uma entrevista, um dos roteiristas Alex Tsé disse "Os fãs não fazem a menor ideia de quantas versões lamentáveis do roteiro existiram ao longo de 20 anos! O mundo quase viu os personagens de Watchmen transformados nos Vingadores, quase viu um filme de dupla tipo 'Máquina Mortífera', quase viu um filme sem flashbacks, quase viu o Dr. Manhattan de uniforme...".
A complexidade da obra de Alan Moore e Dave Gibbons, bem como suas boas idéias não impediu que muitos de seus conceitos inspirassem um generoso número de mídias, podemos dizer que o que tínhamos de Watchmen fora da arte sequencial eram a lei anti-super-heróis vista no longa animado "Os Incríveis"(The Incredibles,2004), de Brad Bird para a Disney/Pixar, análoga a Lei Keene contra o vigilantismo da graphic novel.
No episódio "O Retorno do Batpato"(Return of Batduck,1992), da série dos jovens "Tiny Toons"(Tiny Toon Adventures,1990-1992,99 episódios), da Warner, episódio escrito por Bruce Tinn mostra o patinho verde Plucky Duck, interpretando um certo herói-morcego, mostrando sua origem até o então presente. No segmento dedicado ao "Cavaleiro das Trevas", é bem visível o metido Valentino Troca-Tapa trajado como um integrante da gangue Mutante e as suas costas um muro coma a famosa pichação ""Who watches the watchmen?".
Usada como uma reflexão a questão de aplicação do poder,  no momento apoteótico do episódio de "Liga da Justiça Sem Limites" (Justice League Unlimited, 2004-2006, 39 episódios), intitulado "Divididos Caímos"(Divided We Fall,2005), na cena em que Batman fala ao Arqueiro Verde, a frase retirada da Sátira VI do filósofo Juvenal (60-127 AC), "Quis custodiet ipsos custodes"(Quem vigia os vigilantes?).
Dignos de  menção são os filmes que inserem o conjunto de conceitos do gênero super-heróis no que chamamos de "mundo real", como  "Corpo Fechado"(Unbreakable,2000), do prolífico diretor indiano M. Night Shyamalan, que com sua formidável abordagem e exploração sobre o mito super-heróico e a inserção deste na realidade corrente realizou o "Watchmen do cinema" antes do Watchmen no cinema e continua sendo ainda, na minha opinião, o melhor filme de super-herói (e super-vilão) já feito.
Os super-heróis transpostos a um mundo que se distanciava de suas fantasias coloridas se espalharam por dimensões próximas a nós, sem o característico preto e branco do maniqueísmo, mas ainda sendo reconhecíveis como arquétipos de bem e mal, pasteurizados para um público menos exigente, como as tramas do seriado "Heroes"(2006-), de Tim Kring, ainda pouco se atrevendo a dar vôos mas altos, mesmo bebendo de fontes que o leito de quadrinhos pode perceber instantaneamente.
A barreira a ser cruzada sempre foram  as questões envolvendo a super-humanidade e a política que permeia o mundo a nossa e que pode fazer mais estrago que qualquer super-vilão. Essa superfície de política e poderes foi timidamente arranhada por "Heróis"(Push,2009), de Paul McGuigan e pelo game "Psi-Ops: The Mindgate Conspiracy"(2004), da Midway Games.Resultado de imagem para push 2009

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Já que foi mencionado a palavra "games", no jogo "City of Heroes"(ou "CoH",2004), da Cryptic Studios e Paragon Studios, é instituído o "Might for Right Act", seguido pelo "Citizen Crime Fighting Act", leis de registro que delimitam a ação dos super-heróis.
CoH parece ser baseado em outra HQ de Alan Moore, a fantástica sátira suprema do gênero "Top 10"(1999-2001,12 edições), ilustradas por Gene Ha e Zander Cannon para o selo America's Best Comics de Moore.

O RPG "Brave New World"(1999), da Pinnacle Entertainment Group(e no ano seguinte pela
Alderac Entertainment Group), usa do subterfúgio da realidade alternativa, como Watchmen, o HUAC e o senador McCarthy transformaram os Estados Unidos em um estado policial fascista, com Kennedy sendo salvo pelo super-herói Superior e Lee Harvey Oswald sendo tratado como um super-vilão, o estado parte para uma ofensiva que suprime os direitos civis e deixa os superseres sob eterna suspeita.
Merecedor de menção é o filme de comédia musical, precursor de Watchmen, "The Return of Captain Invincible"(1983), de Philippe Mora, o herói do título é forçado pelo McCarthyismo a deixar a cena pública.
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Em meio as mídias, as leis de registro faziam o meio político ganhar mais peso e seus efeitos serem mais sentidos nas histórias em quadrinhos, algumas pré-Watchmen, como o "Ato de Registro Mutante" e "Ato de Registro Super-Humano"(respectivamente "Registration Acts—the Mutant Registration Act ou MRA e Superhuman Registration Act ou SRA, as vezes SHRA), pela primeira vez mencionados em "Uncanny X-Men" #141(Janeiro de 1981), na excelente história "Dias de um Futuro Esquecido"(Days of Future Past), de Chris Claremont e John Byrne. Com os dois Atos, embarca também o "Ato de Controle Mutante"(Mutant Control Act).
No ano seguinte a Marvel, mais exatamente a divisão inglesa Marvel UK, cria no arco de histórias "Jaspers' Warp"(ou "Crooked World",1982-1984) com o "Super Hero Legislation" que emprega agentes armados da S.H.I.E.L.D. para a detenção dos meta-humanos. A história pincelada por Alan Davis e Dave Thorpe, tinham roteiros de Alan Moore que ensaiava seu Ato Keene, que mais tarde seria visto, em referência a Watchmen.
 Em "Esquadrão Suicida"(Suicide Squad,vol. 1,1987), da DC Comics, com história de John Ostrander, o Ato referia-se a uma parte da legislação de 1961 que apontava o uso de prisioneiros em missões de risco em prol dos interesses federais, originalmente o Esquadrão Suicida (ou Força Tarefa X) usava soldados sujeitos a berlinda de uma corte marcial.
 

Depois deste pequeno apanhado divagador, passemos a um pouco da história da primorosa HQ, alvo deste texto:
Watchmen foi lançado pouco depois do icônico "O Cavaleiro das Trevas"(Batman: The Dark Knight Returns,1986), para que ao lado deste reine absoluto no panteão da nona arte.
Este texto não tem, de forma alguma, a pretensão de dar a resenha definitiva da HQ, é uma reles tentativa de construir uma sinopse concisa, ao menos para quem conhece a história:
Watchmen é situada em 1985, os vigilantes fantasiados são realidade desde o final dos anos 1930.
No meado da década de 80 em que a história transcorre, as políticas externas agressivas dos Estados Unidos são baseadas quase exclusivamente na posse de uma incrível arma que toca o rumo da vida de todas as criaturas da Terra.
O ocidente vive um momento delicado no contexto da Guerra Fria e em vias de declarar uma guerra nuclear contra a União Soviética, se esta não esvaziar seus silos antes. Este turbilhão de acontecimentos envolve os episódios vividos por um grupo de super-heróis do passado e do presente instante da trama com os eventos norteados pelo misterioso assassinato de um deles.
Watchmen pede que você imagine um mundo com super-heróis como sendo indivíduos apenas com recursos e árduo treino, como Batman ou Arqueiro Verde (ou como o Pacificador e o Besouro Azul, como queria Moore no princípio), pessoas que tomam a justiça e as leis a sua própria interpretação e se trajando de maneira esdrúxula para executa-la. Como ainda se tratam de pessoas normais (combatendo gente também normal), sua interação com o mundo seria a mesma que a de qualquer humano, não há ponto de divergência, nem a realidade alternativa que se derivaria dele. A Guerra da Bósnia, por exemplo, ainda teria sua duração oficial entre 1992 e 1995.
Mas eis que surge um ser como o Superman (ou o Capitão Átomo), alguém com poderes sobre-humanos, cuja definição mais próxima de sua descrição seria a palavra "deus" . Só pelo fato deste indivíduo extraordinário existir, sua interação com a realidade seria plenamente sentida por todos os seus ocupantes. A guerra da Bósnia talvez nem acontecesse - a realidade alternativa seria um evento exaustivamente usado se o que ocorre nas HQs fosse escrito para parecer real, ou se ao menos levasse o que acontece em nosso mundo em conta, é impossível alguém como o Superman existir e o mundo à sua volta e eventos históricos permanecerem imaculados - .
Com Watchmen, Moore disse que o que se via nos quadrinhos de até então eram a pura ingenuidade mostrando que o poder não influía no que existia a sua volta. A realidade é politizada e complexa demais para que se satisfaça apenas com a retirada de gatos de cima das árvores por pessoas que usam a cueca por cima da calça. Talvez seja como disse o poeta e ensaísta alemão Hans Magnus Enzensberger, que quando a maioria debate o mundo a sua volta, supõem que a "criatividade" substitui a observação e acabam por produzir toscas variações sobre fórmulas sintetizadas por outros.
Até que Moore e Gibbons quebraram a fórmula de mesmas variantes.
Grandes justificativas para que a realidade tenha seguido seu curso normal, mesmo em universos cheios de super-heróis, já haviam sido expostas pelo quadrinho mainstream, o pretexto da DC Comics tinha sido a barreira mística que cobriu a Europa, criada pelo ocultista Rei Dragão a serviço de Hitler, utilizando uma máquina energizada pelo Santo Graal e a lendária Lança do Destino, os personagens místicos ou suscetíveis a magia ficavam sob o domínio do Führer, e meta-humanos "comuns" tinham seus poderes temporariamente cancelados. Essa explicação dada por Roy Thomas na história "Os Últimos dias da Sociedade da Justiça"(The Last Days of the Justice Society,1986) tentava explicar porque a Segunda Guerra Mundial, com pesos pesados como O Espectro e Sr. Destino do lado dos Aliados, durou anos, e não horas.
No caso da Marvel, a editora tentava manter o status quo histórico mantendo os lados em conflito equilibrados. O grupo de super-heróis da era do ouro, "Os Invasores"(The Invaders, 1969), criação de Roy Thomas e Sal Buscema, embora não tão poderosos como os heróis da DC, tinham que enfrentar os supergrupos do eixo. O Caveira Vermelha chegou a hipnotizar a equipe para que esta destruísse Washington, D.C. e seu governo, que se defendeu criando a "Legião da Liberdade"(Liberty Legion,1976), (também de Thomas, que fez outra reunião de heróis da antiga Timely Comics), sem falar que o trovejante asgardiano Thor, lutou do lado dos nazistas.
Watchmen, talvez a Magnum Opus de Alan Moore e Dave Gibbons, foi laureada com os maiores prêmios dirigidos a mídia HQ, incluindo o Eisner, o Kirby, e o Prêmio Hugo  (o Oscar da ficção científica) que então criava a categoria "Outros Formatos" para que Watchmen pudesse ser premiada, sendo até então a única HQ a ganhar esse prêmio, e foi a única HQ que entrou na lista dos 100 Grandes Livros da Língua Inglesa desde 1923.
Moore inaugurava a era dos super-heróis com complexos que os definem como "mais humanos", não importava o quanto você dispunha de dispositivos em seu cinto de utilidades ou que pudesse transformar carvão em diamante, teria que encarar a miríade de seus problemas éticos e psicológicos, lutar contra as neuroses, defeitos cotidianos e as tensões de ser mais uma faceta humana.
Os heróis aglutinam sua psiquês ao cotidiano de combate ao crime, enquanto o homem médio, que habitualmente não põe a cueca por cima da calça, tem seus medos e angústias representados por um jornaleiro sempre presente em sua banca de jornal. Era a desconstrução pormenorizada do gênero que galgava passos mais firmes.
Nada visto em Watchmen é gratuito, mesmo a violência sexual do Comediante para com Espectral é um elemento necessário a reflexão do leitor. As heroínas costumeiramente são retratadas lutando o crime,vamos dizer assim, "bem a vontade", com trajes reveladores e, creio, pouco confortáveis para o ofício de combatente, a perturbadora passagem de Watchmen lança uma espécie de pergunta em como ninguém repara no que há por baixo das rendas da Canário Negro ou na tônica"verdejancia" da Mulher-Hulk ?

Watchmen mostrava seus super-heróis como indivíduos plausíveis, Moore evitou de maneira eficaz os arquétipos e super-poderes tipicamente e tradicionalmente encontrados no gênero, mudando os dogmas e paradigmas, fazendo uma crítica contundente e feroz aos heróis de colante e à forma como eram retratados, chegando ao ponto de gerar protestos e reclamações dos que defendiam o gênero super-heroico convencional, praticamente imutável desde as chamadas eras de ouro e prata do estilo.
Gibbons disse, em entrevista sobre seu livro "Os Bastidores de Watchmen"(Watching the Watchmen,2008) - em parceria com Chip Kidd e Mike Essl e com fotografias de Dan Scudamore - ao site G1(da Globo.Com) em 27/02/09 a respeito dessa alegada desconstrução:
"O fato é que eu e Alan nunca quisemos destruir os super-heróis, ou fazê-los parecer ruins ou bobos. Nós crescemos adorando super-heróis. Mas, à medida que fomos envelhecendo, o frustrante era que eles [os super-heróis] iam só até um ponto. Havia muitas perguntas que não haviam sido feitas. Então, na verdade, nós fizemos as perguntas que não tinham sido feitas, para tentar conhecê-los melhor. E, por lidar com personagens arquetípicos familiares aos leitores, podíamos fazer com que essas questões tivessem ecos na cabeça dos leitores com relação a outros personagens de quadrinhos que se encaixassem nos mesmos moldes deles."
"O deprimente é que, depois de Watchmen, muitos criadores passaram a dizer que, dali em diante, a única forma de trabalhar com personagens fantasiados era criar heróis que fossem sombrios, cínicos, horripilantes. Mas essa não era a nossa ideia: estávamos apenas tentando mostrar um caminho possível a eles."
De fato não vejo a "desconstrução" como uma punhalada no gênero, e sim sua humanização, esta desconstrução foi a responsável, juntamente com as ótimas HQs "O Cavaleiro das Trevas", "A Queda de Murdock"(1985) , ambos de Frank Miller, Resultado de imagem para dark knight returns

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e o lançamento de "Maus"(Maus: A Survivor's Tale,1973-1991), uma HQ fora do estilo de super-heróis e, que junto dos citados, foi um dos grandes responsáveis pela ascensão do chamado "quadrinho adulto".

Estes trabalhos nos trouxeram histórias memoráveis, novas mitologias e a constante e acirrada discussão se quadrinhos são ou não literatura (o prêmio Pulitzr de Maus e a colocação de Watchmen entre os 100 melhores romances do século XX, eleitos pela Time,é um bom argumento para os que querem inserir os quadrinhos na literatura erudita), de qualquer forma, a luta contra a ideia de que a HQ é uma coisa exclusivamente infanto-juvenil continua, sustentada pelos ignorantes.

Embora já houvessem bons exemplos de HQs mais "adultas" - como o inovador "Miracleman" da fase Moore (1982-1984), o mito arthuriano revisitado de "Camelot 3000"(1982-1985), de Mike W. Barr e Brian Bolland, ou o road movie dos quadrinhos cheios de crítica social com "Lanterna Verde e Arqueiro Verde" (Green Lantern/Green Arrow,1970-1988) de Neal Adams e Dennis O'Neil - Watchmen e O Cavaleiro das Trevas são o início da era em que os quadrinhos se tornaram sérios o bastante para serem globais.

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Watchmen deu uma certa maleabilidade aos quadrinhos de super-heróis que não teria relevo sem seu aparecimento, algo que já havia sido feito em Miracleman, todavia não havia alcançado um publico como o que foi atingido com a mini série, o gênero agora é livre para uma infinidade de rumos.



Indo para as origens do clássico máximo de Moore e Gibbons: na época a DC Comics, dirigida então por Dick Giordano, adquiriu uma linha de personagens da Charlton Comics (1946-1986). Assim como havia feito quando estava em Miracleman na Quality Communications (e depois na Eclipse Comics), o roteirista britânico queria uma história estrelada por uma linha de super-heróis ainda não usada pela editora e fosse passível de remodelação.
Depois de uma breve consideração em favor do super-grupo Mighty Crusaders, da Archie Comics(1942-) - que já teve um dos pais do Superman, Jerome "Jerry" Siegel (1914–1996) como roteirista - que, diferente do que pensava, não estavam disponíveis, e para o qual havia desenvolvido um roteiro com elementos de suspense e assassinato partindo do descobrimento do corpo do personagem The Shield.
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Moore partiu com este mesmo projeto em direção dos recém adquiridos personagens da Charlton, agora intitulado "Who Killed the Peacemaker".
Com o projeto em mãos, Giordano se mostrava receptivo, mas sabia que Moore não teria escrúpulos em matar personagens, algo que estava claro desde o tempo em que o alvo de sua história eram os Crusaders da Archie, então, não liberou os personagens. Segundo Moore "a DC percebeu que seus personagens caros acabariam ou mortos ou inutilizados" (independente disso, Giordano deve desejar uma máquina do tempo até hoje).
Giordano convenceu Moore a retrabalhar o projeto com personagens inéditos.
Com certa relutância e achando que não conseguiria chegar ao âmago das emoções dos leitores, levou certo tempo mas mudou de ideia, disse: "Eventualmente, percebi que se eu escrevesse os personagens substitutos bem o bastante, para que então eles pudessem ser de alguma forma familiares, certos aspectos deles poderiam trazer ao leitor uma espécie de ressonância ou familiaridade de um super-herói genérico, então podia dar certo."
E assim os genéricos acabaram com base nos heróis da Charlton:
Comediante, violento e cínico, parece entender como funciona o mundo. É o rosto do século XX.

Comediante = Pacificador

Dr. Manhattan, complexidade humana versus indiferença de sua figura quase divina. A arma mais poderosa jamais vista, mantém os inimigos da nação em seus devidos lugares. Todos são marionetes, o outrora Dr. Osterman é uma marionete que enxerga suas cordas.

Dr. Manhattan = Capitão Átomo
Gibbons usa a mesma tonalidade azul de "Rogue Trooper"(1981-), que co-criou com Gerry Finley-Day para a famosa publicação inglesa 2000 AD .


Rorschach, assustador e quase psicótico, devido a sua vivência tinha tudo para ser um vilão, provou que somos o que escolhemos ser. Sua visão geral é maniqueísta, preto ou branco, como seu "rosto". O mal deve ser punido, mesmo no fim do mundo.

Rorschach = Questão
Para o perturbado vigilante de "rosto" alternante, Moore afirma ter usado também muito do personagem "Mr. A"(primeira aparição na Witzend #3,1967), de um dos criadores do Homem-Aranha, Steve Ditko.


Ozymandias, inspirado em Alexandre, o Grande. O idealismo faz dele um homem de olhos melancólicos demais para quem tem tudo.

Ozymandias = Thunderbolt

Coruja da Noite, com certeza a maior vítima da Lei Keene, que colocou os super-heróis, motivo das greves da polícia, na ilegalidade, forçosamente aposentado e vivendo sem propósito, vazio intensificado pela depressão da meia-idade.

Coruja da Noite = Besouro Azul

Espectral, Jogada pela mãe, a primeira Espectral, no mundo do vigilantismo, assume seu papel sem ressalvas, e também sem entendimento, foi uma escolha infeliz que reflete sua confusão emocional.

Espectral = Sombra da Noite

Em recente entrevista, o desenhista Dave Gibbons falou um pouco sobre o uso dos heróis da Charlton:
"A Charlton era uma companhia de bem menos sucesso. A DC e a Marvel sempre tinham os personagens originais mais empolgantes, e os da Charlton, ainda que alguns fossem muito interessantes e feitos com inteligência, eram personagens de segunda linha. Eles nunca tiveram a popularidade que os personagens da DC e da Marvel tinham. Mas o que eles encapsulavam eram os arquétipos dos heróis de quadrinhos. Você tem o super-herói com poderes divinos, que nos gibis deles eram o Capitão Átomo [e em "Watchmen", o Dr. Manhattan], o herói militarista que era o Pacificador, que com nós era o Comediante, tinha a heroína gótica, glamourosa mas que lutava contra o crime, Espectral, e o estilo Batman, que no caso da Charlton era o Besouro Azul [e em "Watchmen", o Coruja].
Havia esses arquétipos básicos desses personagens, e Alan pensou na história inicialmente com eles no lugar. Mas, nesse caso, não teríamos como fazer um grande salto para os personagens que nós criamos por conta própria, que também eram personagens arquetípicos, mas que poderiam trazer frescor e novidade. Como não estavam ligados aos personagens velhos da Charlton, não precisávamos garantir que houvesse uma continuidade. Então, para nós, foi tremendamente libertador, podíamos trazer uma riqueza aos personagens que talvez não estivesse lá nos livros da Charlton."
Falando em Gibbons, por um tempo considerável pensei que a HQ merecia um desenhista mais detalhista que Dave Gibbons, como Brian Bolland de "Batman: A Piada Mortal",ou talvez o apuro artístico e dinâmico de Brent Anderson (de "X-Men - Deus Cria, O Homem Mata),


todavia, a exímia arte de Gibbons se encaixa nas metáfora sobre super-heróis que Moore queria na época, a crítica teria que funcionar nos próprios termos do que se fazia com as HQs na época.

Com o tempo me veio o convencimento quanto ao brilho e inovação de Gibbons, ao desenhar aquela história nos variados ângulos cinematográficos, em combinado com o uso frequente de simbolismo se amalgamando aos diálogos em camadas e meta ficção de Moore, o transformaram em um Stanley Kubrick dos quadrinhos (Conte quantas vezes aparece o smile com espirro de sangue, ou com água, tinta, etc. Em Watchmen nada é trivial), fazendo de Watchmen influência sentida tanto para a nona quanto para a sétima arte.
O relógio do apocalipse e a carinha sorridente.
Watchmen foi como o testemunho do policial Jeffrey Piper, personagem central da mini-série "Código de Honra"(Code of Honor,1997), de Chuck Dixon, Brad Parker e Tristan Shane, na noite da aparição da Fênix Negra:
"Iluminou o céu como se fosse meio-dia. E o mundo inteiro pareceu mais escuro depois que se apagou."
É a melhor das vezes onde os super-heróis devem tirar o mundo da beira do precipício (creio que ele sempre esteve lá). Watchmen é extremo como ficção e como alegoria de sua época, como uma bos história, faz  o pensamento crítico aflorar, usando das palavras do músico Yehudi Menuhin (1916–1999):
"Se eu tivesse que resumir o século XX, diria que ele suscitou as maiores esperanças já concebidas pela humanidade, e destruiu todas s ilusões e ideais."
É preciso salvar a humanidade de si mesma, do caos que ela mesma constrói e adentra.
Quantos clamores por justiça e por um mundo melhor não foram sumariamente esmagados?
Por exemplo, a Guerra Civil Espanhola já foi chamada de "a última grande causa da humanidade" e foi cruelmente esquecida na sombras de um conflito ainda mais encarniçado.
"Tivemos filhos, criamo-los, demos-lhes educação. Pensa-se que é a paz, que seremos felizes. E depois, a cada vinte ou trinta anos, isto recomeça! Até quando, até quando?"
Anônima, Tchecoslováquia, 21 de agosto de 1968.
Ou como William Butler Yeats, tido como grande entendedor da alma humana, disse: "Eu estendi meus sonhos sob os teus pés\Caminha suavemente, pois caminhas sobre meus sonhos."
Sofrendo as pressões desta dimensão menos ingênua e com menos doses de poses e bandeiras, submersos em um mundo inundado de questões humanas e políticas, os personagens de Watchmen mostram ter completa ciência desta desilusão e que a suavidade pedida pelo poeta nunca foi atendida.
Por convenção, o geral político das HQs, em quase sua totalidade, se resumia a esporádicas e irrelevantes aparições de figuras públicas em suas páginas, ou, com o ambiente de Guerra Fria desde o final dos anos 40, no simplismo maniqueísta do "nós e os traiçoeiros comunas".
Watchmen usa politização no estilo super-heróis, coisa que aos poucos poderia ser vistas em outros sub-estilos da ficção científica já estabelecidos, como na franquia "Gundam", iniciada pela série animada "Mobile Suit Gundam"(Kidō Senshi Gandam,1979-1980,43 episódios), de Yoshiyuki Tomino, que além de trazer a guerra mais próxima do real ao gênero mecha, transforma a máquina, antes um ente especial e central do gênero, em apenas mais uma arma, como um caça ou um tanque.
A política segue no claro acobertamento por detrás do primeiro contato, na revolução do verossímil na space opera que foi "2001: Uma Odisseia no Espaço"(2001: A Space Odyssey1968), de Stanley Kubrick(1928–1999).
Pode-se afirmar que Watchmen é a realidade com super-heróis, Moore a construiu com todos os seus pormenores, com a nossa realidade como molde e o tornou estruturalmente perfeito, seu estudo e análise sobre a relação humana com o poder corre tendo a invasão soviética ao Afeganistão como pano de fundo, evento que na realidade da HQ atrasada devido a presença do quase-deus azul, e que na nossa acabou se constituindo em um longo período de angústia, o "Vietnã russo" outro passo da guerra nuclear, foi um dos últimos grandes conflitos da era contemporâneo e era presente na ocasião da publicação de Watchmen. É sabido que Nixon queria usar armamento nuclear no sudeste asiático, em Watchmen ele usa uma arma ainda mais poderosa.
O Comediante cita, nos tumultos das greves dos policiais, e que nunca se divertiu tanto desde Woodward e Bernstein, Bob Upshur Woodward, mais conhecido como Bob, e Carl Bernstein, revelaram ao mundo em 18 de Junho de 1972, no Washington Post o escândalo do hotel Watergate ato corrupto de um bastião público que levou Nixon a uma vergonhosa renúncia presidencial e um legado sinônimo de corrupção.Em uma realidade em que Nixon pode contar com o Comediante, é sugerido que Woodward e Bernstein tiveram um horrendo fim, juntamente com a verdade sobre o então presidente, trata-se de um mundo sem o filme "Todos os Homens do Presidente"(All the President's Men, 1976), de Alan J. Pakula (1928-1998).
A finada editora EC Comics, fundada em 1944 e vitimada pelo famigerado Comics Code Authority no final dos anos 50 , figura nas páginas de Watchmen, sem o entrave da censura e como um sucesso absoluto, a série de Gibbons e Moore conta, inclusive, com palavras sobre o polivalente artista Joe Orlando (Joseph Orlando,1927—1998). A lógica é que com os super-heróis figurando no mundo real, sua ficção foi fadada ao fracasso, personagens como o Superman e Flash são lembrados apenas pelos mais velhos que viram seu início.

Outro evento real e perturbador é o assassinato de Kitty Genovese, contado por Rorschach ao seu psicólogo na edição #6.
“Estrupada. Torturada. Morta. Aqui. Em Nova York. Do lado de fora do próprio prédio. Quase 40 vizinhos ouviram gritos. Ninguém chamou a polícia. Alguns ficaram olhando”, relata Rorschach. Aconteceu tal qual as palavras de Rorschach ao psicólogo.
Kitty Genovese (Catherine Susan Genovese,1935—1964), na série de Alan Moore ela é o catalisador de Rorschach, a máscara do vigilante é derivada de um vestido feito com um tecido criado pelo Dr. Manhattan e recusado por ela. Mais tarde, ele se depara com uma notícia no jornal sobre a morte da garota que encomendou o vestido.
A tragédia de Genovese não apenas instigou investigações do fenômeno psicológico que tornou-se conhecido como "efeito espectador", "responsabilidade difusa" ou "síndrome Genovese". Além de um lastimável peso de apatia mas, em Watchmen, é um dos fatores definitivos para que Rorschach se tornasse quem ele se tornou.
“Está entendendo? Alguns ficaram olhando. Eu já sabia o que as pessoas eram por trás de todos os subterfúgios, mentiras para si mesmas. Com vergonha da humanidade, fui para casa. Peguei os restos do vestido que ela não quis, e fiz um rosto que eu tolerasse olhar no espelho.”
“Eu escolhia mulheres para matar porque elas eram mais fáceis e não lutavam”, disse Winston Moseley, assassino de Genovese, preso seis dias depois. A princípio condenado à cadeira elétrica, ele teve sua pena modificada para prisão perpétua. Décadas depois, após fugas e pedidos de condicional, Winston Moseley continua na cadeia.
Depois da abordagem de Watchmen, algumas tragédias reais eram evitadas pelos super-heróis, como o salvamento do Challenger pelo Samaritano no primeiro arco de histórias de uma das mais elogiadas homenagens aos super-heróis, "Astro City", de Kurt Busiek e Brent Anderson.
E o Grande Máquina, personagem central da ótima HQ "Ex Machina"(2004-), de Brian K. Vaughan, força o voo 175 da United a pousar antes que este se chocasse com a segunda torre do World Trade Center em 2001.
Com o tempo as HQs, na esteira de Watchmen, mostraram seu arsenal, de calibres fortes ou nem tanto, de realidades em que os poderes dominam, ou tomam para si as rédeas do mundo.



Mesmo os universos mais ligados a anos de uma cronologia de eventos improváveis, por vezes tentam dizer que a política pode fazer mais estragos que um super-vilão armado com uma bomba nuclear. As grandes editoras exploravam seu próprio quinhão de realidades alternativas.



Watchmen envelheceu bem, e sua relevância pode ser sentida de maneira palpável na pós-contemporaneidade, afinal, parece que sempre haverá  análogos a Lei Keene.


Em uma era em o que dá certo costuma ser incentivado a continuar ou ter seu legado transformado em um grande universo multimídia, ou entram no processo do tipo "veja o livro e leia o filme", o filme baseado na HQ era o último grande desafio para compor o quadro midiático geral de Watchmen.
"Watchmen - O Filme"(Watchmen,2009), de Zack Snyder, fora o fato de ser um evento a muito esperado, é mais uma marca de que as adaptações são uma das pouquíssimas coisas que salvam o atual e combalido cinema comercial.




Como todo grande trabalho, o filme de Watchmen também teve um árduo caminho até sua realização, com os rumores de uma adaptação para o cinema datam do início da década de 90. Os cotados nesta  época eram Robin Williams como Rorschach, Jamie Lee Curtis como Espectral, Gary Busey como Comediante e Richard Gere (ou Kevin Costner) como Coruja, como se vê, se tivesse sido realizado seria parte do grupo de adaptações esquecíveis que atulharam aquele tempo.


Os direitos de adaptação de Watchmen foram adquiridos juntamente com os de "V de Vingança"(V for Vendetta,1982-1983) , também de autoria de Alan Moore.
O primeiro sério candidato a diretor de Watchmen foi o competente Terry Gilliam (Brazil- O Filme, 12 Macacos), e seu colaborador Charles McKeown fizeram diversas versões de roteiro para Watchmen, até o filme ser abortado pela Warner Bros. O estúdio considerava impossível rodar uma adaptação da HQ, com Gilliam tendo declarado que conseguiria fazer do material uma série de, no mínimo, 5 horas de duração. Gilliam foi o único diretor que recebeu apoio de Alan Moore.
 O ex-Monty Python descreveu uma vez Watchmen como sendo o "Guerra e Paz" das histórias em quadrinhos. O roteirista Alex Tse descreve Watchmen e Batman - O Cavaleiro das Trevas como um equivalente ao Novo e Velho Testamento das histórias em quadrinhos -
Em 2003 o diretor especialista em ação, Michael Bay (Armageddon, Transformers) recebeu uma proposta para dirigir Watchmen, mas felizmente a recusou.
No ano seguinte a Paramount contratou Paul Greengrass (Domingo Sangrento, Supremacia Bourne) para roteirizar e dirigir Watchmen. Greengrass tinha a intenção de por Joaquim Phoenix (A Vila, Hotel Ruanda) como o Coruja e Hilary Swank (Meninos não Choram, Dália Negra) como a Espectral, Simon Pegg (Todo Mundo Quase Morto, Chumbo Quente) foi contactado pelos produtores para que interpretasse Rorschach, Pegg, como o inglês sensato que é, recusou o papel. O estúdio resolveu dar fim ao projeto, dando a Greengrass a oportunidade da direção de "Vôo United 93"(United 93, 2006), ganhador de dois Oscars, de melhor direção e edição.
Com a desistência da Paramount, a Warner Bros readquiriu os direitos de adaptação de Watchmen para o cinema. Darren Aronofsky, o gênio responsável por "Pi"(ou π,1998) chegou a ser contactado para dirigir Watchmen, mas, apesar de seu talento,considerou a história datada. Era intenção de Aronofsky adaptá-la para os dias atuais, substituindo a Guerra do Vietnã pela Guerra do Iraque e a questão do terrorismo. O estúdio discordando da visão de Aronofsky, e com a Warner impressionada com a adaptação "300"(2006) decidiu contratar Zack Snyder.

E eis que chegamos ao realizador da obra infílmavel.
Como já é de praxe, Moore o gênio ranzinza, que jamais concordou com qualquer transposição de sua obra para o cinema não quis seu nome ligado ao filme. Não se pode tirar sua razão, Hollywood se apega com uma frequência perturbadora a falta de inteligencia do público, como na extremamente infeliz adaptação de "A Liga Extraordinária"(The League of Extraordinary Gentlemen,2003), sob sua ótima obra, junto do desenhista Danny O´Neill, steampunk iniciada em 1999,
ou a duvidosa película "Constantine"(2005), de Francis Lawrence, sob seu célebre personagem do horror contemporâneo "Hellblazer"(1988).
Há quem ache discutível seus xiliques quanto a versões aceitáveis, como "Do inferno"(From Hell,2001), dos irmãos Hughes, em cima da graphic novel que fez com Eddie Campbell entre 1991 e 1996,
e o aclamado "V de Vingança"(V for Vendetta,2005), de James McTeigue, com produção dos irmãos Wachowski, baseado no clássico de mesmo nome, publicado entre 1982-1988, de Moore e David Lloyd,  e que, embora bem sucedido comercialmente, está aquém do arrojo magistral da obra original..
Em V de Vingança, Moore pediu que todos os royalties fossem para o artista David Lloyd. e graças à recusa de Moore em ter seu nome associado a transposição de Watchmen, Gibbons, que é consultor do filme, leva boa parte dos valores pagos pela Warner para fazer a adaptação, a outra parte vai para John Higgins, geralmente ignorado quando se fala de Watchmen, e que foi o ótimo colorista da mini série.
Ao julgar pelo assédio de Gibbons desde a concepção da mini série na década de 1980 até hoje, o desenhista não parece que ficaria tão chateado se a transposição tivesse saído longe do satisfatório.
Creio que a última vez que o nome de Moore esteve associado a uma transposição, e sem processar ninguém, tenha sido na boa adaptação da história do Superman, "O Homem Que Tinha Tudo"(For the Man Who Has Everything,1985), história que fez em parceria com Gibbons e que foi transformada no segundo episódio da ótima série animada "Liga da Justiça Sem Limites", do Cartoon Network.
Digna de elogios é sua homenagem e a V de Vingança no episódio 20 de "Cowboy Beebop"(1998, 26 episódios), dirigido por Shinichiro Watanabe (Animatrix) e escrito por Keiko Nabumoto (Macross Plus), o episódio , intitulado "Pierrot le Fou", também é uma ode a banda desenhada.A Warner já havia se adiantado na escolha de alguns atores, e outros de grande estirpe já haviam se mostrados preparados para encarnarem os vigilantes (os produtores Lawrence Gordon e Lloyd Levin queriam que Ron Perlman fosse o intérprete do Comediante. Tom Cruise e Jude Law manifestaram interesse em interpretar o personagem Ozymandias. John Cusack esteve cotado para interpretar o Coruja. A eterna tenente Ripley, Sigourney Weaver esteve cotada para interpretar Sally Jupiter. Nathan Fillion esteve na pauta para os personagens Coruja e Comediante. Doug Hutchinson contou com uma grande campanha na internet para que interpretasse Rorschach. O apelo resultou em um teste de cena para o ator, que não foi escolhido pelo diretor Zack Snyder.), porém Snyder afirmou não querer ninguém muito marcante para carregar sozinho o filme com seu semblante famoso, penso que o caso de Sean Connery na execrável Liga Extraordinária deve ter servido de aviso. O elenco que trabalhou nas filmagens que ocorreram entre 17 de setembro e 31 de dezembro de 2007, ficou assim:
Malin Akerman como Laurie Jupiter/Espectral II
Billy Crudup como Dr. Manhattan/Jon Osterman
Matthew Goode como Adrian Veidt/Ozymandias
Jackie Earle Haley como Walter Kovacs/Rorschach
Jeffrey Dean Morgan como Edward Blake/O Comediante
Patrick Wilson como Dan Dreiberg/Coruja da Noite II
Carla Gugino como Sally Jupiter/Espectral
Stephen McHattie como Hollis Mason/Coruja da Noite
Durante a escalação do elenco Snyder deu a cada ator uma cópia do roteiro e outra da HQ. Posteriormente, já durante as filmagens, o diretor permitiu que os atores levassem ao set a HQ e reescrevessem eles próprios seus diálogos, Matthew Goode , o Ozymandias do filme, nunca tinha sequer ouvido falar de Watchmen.
A boa introdução, que abre o filme, usa o mesmo princípio do bom filme "Liga da Justiça: A Nova Fronteira"(Justice League: The New Frontier,2008), de Dave Bullock, adaptação da excelente HQ "DC: A Nova Fronteira"(DC: The New Frontier,2003-2004), de Darwyn Cooke.

Snyder já havia usado recurso parecido, mas menos diorámico, no badalado remake "Madrugada dos Mortos"(Dawn of the Dead,2004), filme que promoveu o retorno massiva do gênero zombie apocalypse, refilmagem de "O Despertar dos Mortos"(Dawn of the Dead,1978), do celebrado George A. Romero.
O detalhismo quase obsessivo do diretor, que utilizou a própria HQ como base para o desenvolvimento das storyboards, só da certeza ao fã de que tudo, e um pouco mais, vão estar lá.

Em alguns pontos é possível que alguns leitores possam afirmar que o filme completa a HQ, como os improvisos de Snyder, embalados pela música "Desolation Row", de Bob Dylan, que vão inserindo os super heróis em meio aos eventos históricos, é possível ver uma pin-up da primeira Espectral ornando a fuselagem de B-29 durante a Segunda Guerra, uma explosão atômica a suas costas sugere que Miss Jupiter substituiu Enola Gay.
A heroína Silhouette beijando uma enfermeira na comemoração do conflito e assim figurando na famosa foto de Alfred Eisenstaedt (1898-1995), no lugar do marinheiro, que chega segundos depois.
A internação do Mariposa as mortes de Silhouete e Dollar Bill.
Passando pelo atentado a vida de Kennedy (que na HQ é apenas comentado e insinuado), e do outro lado da cortina global, assistindo o uma suntuosa parada do Kremlin Leonid Brejnev e Fidel Castro,
indo para o espetacular momento em que se vê um Dr. Manhatan esperando Armstrong, Aldrin na Lua.
Vê-se o power flower sendo massacrado,
e Ozymandias figurando juntamente com o stone Mick Jagger, o camaleônico David Bowie e o satírico Village People em frente a fachada do lendário Studio 54,
enquanto Andy Warhol incorpora máscaras a PopArt em sua Factory, enquanto discute o fenômeno super-heroico com um observador Truman Capote .
O comparar inicial das duas mídias é como em "Neon Genesis Evangelion"(Shin Seiki Evangelion) certas partes do manga (iniciado em 1995,de Yoshiyuki Sadamoto) mostram o que no anime original(1995-1996,26 episódios,de Hideaki Anno) é levemente insinuado, e vice-versa.
Watchmen - O Filme até tem instantes em que maximiza a obra original, ao usar pessoas que realmente atuaram em nosso veio real para interagirem na dimensão alternativa de Watchmen, como a discussão ideológica entre Veidt e Lee Iacocca (incluindo a ousadia de seu assassinato, o que levou a criação de um site intitulado "Lee Iacocca está vivo e passa bem"), e Eleanor Clift discutindo com Pat Buchanan em um talkshow de John McLaughlin a influencia do Dr. Manhatan no limiar do mundo bipolarizado, enquanto Ted Koppel faz anúncio de matérias com o mesmo, o que otimiza sua autenticidade .
Os atores estão perfeitos (embora há de se convir que as interpretações nem sempre estão boas), mesmo nas figuras reais como Richard Nixon (Robert Wisden), Henry Kissinger (Frank Novak), Truman Capote (Greg Armstrong-Morris), Lee Iacocca (Walter Addison), entre muitos outros .
Os protestos pré lei Keene, que sobre o lapiz de Gibbons são de grande severidade, na película parecem só ter equivalência com o levante global de 1968.
A bruta luta entre o Comediante e seu assassino se delonga por mais frames que na HQ, explicitando as habilidades dos combatentes - que tem grande êxito ao mostrar a diferença entre os vigilantes e as pessoas medianas - , com ênfase na poderosa resistência, porém inútil ante seu algoz. A plasticidade e a cinética da ação envolvida nessas cenas lembra partes da luta na estação do metrô vistas no primeiro "Matrix"(1999), dos irmãos Wachowski.
A consequente investigação de Rorschach (com certeza Jackie Earle Haley nasceu para interpretar Rorschach) ocorre tal qual se conhece desde 1986, com o jogo de câmeras intensificando as cenas que a primeira vista são simples e cotidianas mas que na verdade estão carregadas de significado. Quantificando o processo que Moore e Gibbons desencadearam, o de associação e repetição de imagens, deixando pistas que ajudam a compor o todo da obra.
O diretor faz o seu resumo da ópera do que foi feito com adaptações até agora. Os heróis dos anos 30 e 40, sobretudo o primeiro Coruja parece fazer parte de uma alusão aos anos de ouro e aos serials de cinema, Note na cena abaixo no canto superior esquerdo.
São anúncios de um dos pináculos da era de ouro, a HQ "Batman" #1, de 1939,
assim o segundo Coruja que na HQ também é um olhar ao rechonchudo "Batman"(1966-1968,120 episódios), vivido por Adam West, para no filme logo remeter ao quase gótico "Batman"(1989), de Tim Burton.
Inclusive passando pelo uniforme com mamilos de Ozymandias, uma referência ao ignóbil período dos Batmans de Joel Schumacher - "Batman Eternamente"(Batman Forever,1995) e "Batman e Robin"(Batman and Robin,1997) -.
Tal qual como na HQ, os Minutemen podem ser uma alusão ao primeiro super-grupo a aparecer historicamente nas HQs, a clássica Sociedade da Justiça da América (Justice Society of America, com primeira aparição em All Star Comics #3, 1940), criação de Sheldon Mayer (1917-1991) e Gardner Fox (Gardner Francis Cooper Fox,1911-1986).
A reunião dos combatentes do crime parece remeter a fundação da Liga da Justiça (Justice League, primeira aparição em The Brave and the Bold #28,1960), de Gardner Fox, ou com Os Vingadores (The Avengers,1963-), de Stan Lee e Jack Kirby(Jacob Kurtzberg,1917–1994), embora bem suprimida no filme, basta ler a HQ para reparar que a mal fadada argumentação do Capitão Metrópolis é similar a proposta da reunião de poderes do grupo heróico da Marvel.
O flasback do Vietnã ao som da "Cavalgada das Valquírias" de Wagner dão o direto tom de crueza visto em "Apocalypse Now"(1979), de Francis Ford Coppola.
A lúgubre tentativa de estrupo com a Espectral pelo Comediante só não é mais bem sucedida e forte que a vista no filme francês "Irreversível" (Irreversible, 2002), de Gaspar Noé.
Deve ser apontado que a morte do sequestrador da pequena Blaire Roche, o qual Roschach narra ao psicólogo, foi posto para não haverem comparações com a série sádica "Jogos Mortais" (Saw) iniciada em 2004, escrito por James Wan e Leigh Whannell e dirigido por James Wan,
Muito embora  o segmento serra/tornozelo/corrente já tenha sido a  alternativa oferecida pelo policial Max Rockatansky, no vigoroso clássico australiano "Mad Max"(1979), de George Miller.
 Desafortunadamente as lembranças de Laurie Jupiter foram amenizadas, esperava ver algo meio "Cidadão Kane"(Citizen Kane,1941), de Orson Welles(1915-1985), com o globo de neve.
Watchmen tenta ter grandeza clássica do cinema, Snyder tenta algo quase correspondesse a muito comentada estrutura dos constantes 9 quadros da HQ. O ritmo da história é bem dosado com seus instantes de tensão esmagadora intercalados com a calmaria e as poucas, mas bem orquestradas cenas de ação.
O Dr. Manhattan é violentamente assediado pela imprensa - muito bem feito a mudança de colocar Janey Slater (pequena, mas muito proveitosa participação de Laura Mennell) na presença de Manhattan - , após o tangível descontrole, ele se refugia em Marte, para o contraste de sua pele azul com o ambiente vermelho e o da serenidade e desolação do deserto vermelho alienígena em comparação com o caos do barulhento meio terrestre. Falando em Manhattan, Billy Crudup conseguiu com êxito ostentar a pele azul do superser, Crudup consegue dar atenção ao que está em seu redor e parecer que não está ali de fato.
Na essência, Watchmen continua infílmavel, Zack Snyder não conseguiu passar Wachtmen em sua totalidade para o cinema, a complexidade da obra e a ignorância dos estúdios cinematográficos não o permitiram. Pesando a dose de mudanças de roteiro e questões adaptativas, o filme está mais perto da co-produção França/Cánada/Japão "O Combate - Lágrimas do Guerreiro"(Crying Freeman,1995), do exímio diretor francês Christophe Gans, que adaptou a boa HQ "Crying Freeman"(1986-1988, 9 volumes),de Kazuo Koike e Ryoichi Ikegami.
Snyder com certeza fez o que era possível fazer com a HQ, se sobresaindo sobre os idiotas de Hollywood já condicionados a falta de inteligência do cinema atual, habituados a tantas continuações e refilmagens inúteis, e usar a futilidade para gastar de maneira obscena um dinheiro - que poderia alimentar cada homem, mulher e criança da Terra - que contribui para denegrir e tornar ainda mais descartável os filmes.
e convenhamos que esta burrice hollywoodiana não se restringe a atual idiotice das mídias audiovisuais, vide o caso da não exibição do episódio "The Cage", episódio-piloto original da série clássica de "Jornada nas Estrelas"(Star Trek) em 1965 por ser considerado pelos manda-chuvas como "inteligente demais" para o público.

Mesmo com o esforço de Snyder em popularizar Wachtmen, HQ mereça ser apreciada inúmeras vezes, é mais provável que tenha realizado um cult de luxo, o filme se tornou hermético, uma provável obra onde só o fã da mídia original notará e entenderá todos os pequenos detalhes (o que chamo de efeito "Akira", em vista da adaptação cinematográfica da maior obra de Katsuhiro Otomo), tais como o jornaleiro e o menino que lê de graça,
bem como a abertura de "Quinta Dimensão"(The Outer Limits,1963-1965,49 episódios) passando na TV de Sally Juspeczyk,
Muitos detalhes que ficaram vagos com a ausência das subtramas, eliminadas pelos atalhos de Snyder, que na HQ levariam ao teleporte da criatura sob Nova York, é possível que muitos dos que não conhecem a HQ de Alan Moore e Dave Gibbons se decepcionem com a animação de "Contos do Cargueiro Negro"(Tales of the Black Freighter,2009), de Daniel DelPurgatorio e Mike Smith, por não entenderem sua conexão no universo de Watchmen.
Só por curiosidade: Era intenção de Zack Snyder que Gerard Butler, com quem já havia trabalhado em 300, atuasse em Watchmen. Entretanto, como todos os principais personagens já estavam escalados, Snyder deu a Butler a dublagem do principal personagem de "Contos do Cargueiro Negro".
Assim como Watchmen tem um pouco do episódio "Arquitetos do Medo"(The Architects of Fear,1963), escrito por Meyer Dolinsky (1923-1984) e dirigido por Byron Haskin (Byron Conrad Haskin,1899–1984) para a série clássica "Quinta Dimensão"(The Outer Limits,1963-1965, 49 episódios), criada por Leslie Stevens (Leslie A. Stevens III,1924–1998),
Alan Moore se baseou no filme alemão "Die 3 Groschen-Oper"(1931), de Georg Wilhelm Pabst (1885-1967), que se inspira no musical de mesmo nome de 1928, do dramaturgo Bertolt Brecht (nascido Eugen Berthold Friedrich Brecht,1898–1956) e do compositor Kurt Weill (Kurt Julian Weill,1900–1950).
É muito provável que Watchmen - O Filme seja como o longa de animação "Final Fantasy VII: Advent Children"(2005), de Tetsuya Nomura e Takeshi Nozue, baseado na aventura mais celebrada da série de games de RPG "Final Fantasy"(iniciada em 1987), de Hironobu Sakaguchi para a Square (atual Square Enix), "Final Fantasy VII"(1997).
FF VII:Advent Children, pode ser visto sem que seu apreciador jamais tenha encostado em um joistick, mas estará perdendo toda uma série de referencias de uma obra que é mais rica do que o espectador casual pode supor.
Ouvi muitas reclamações de pessoas que ficaram "perdidas" no início do filme, é fato de que a maioria das pessoas não tem senso e conhecimento histórico para adentrar confiante no passar de décadas de Watchmen, para entender o resultado real e fictício da Guerra do Vietnã ou para reconhecerem Richard Nixon (Richard Milhous Nixon,1913—1994) ou Henry Kissinger.
Talvez a confusão tivesse sido atenuada (ou não) se estas mesmas pessoas tivessem acompanhado a criativa campanha viral com todos os seus insights ao universo de Watchmen, e que, para os leitores da graphic novel, de certa supriram em parte a ausência daqueles trechos de livros e relatórios ao final de cada capítulo da HQ.Assisti o filme na companhia de meu grande amigo Thiago, que não é um inveterado leitor de quadrinhos e nem conhecia a obra de Alan Moore e Dave Gibbons, mas teve grande sagacidade ao perguntar se aqueles não eram os heróis Capitão Átomo e Questão que o que estava vendo perecia filme antigo.
Isso mostra que o detalhismo de Snyder, a cinematografia de Larry Fong e a trilha sonora de Tyler Bates que seguiu a risca o que indica a HQ, e ainda a realização dentro da estrutura de um grande estúdio, como se fazia nos anos 1970, tiveram exito em deixar o espectador médio no ambiente histórico que se tencionava.
Convindo que nem sempre as interpretações são convincentes (que o "resumo" da HQ também não ajuda, como caso da constatação apressada da paternidade da segunda Espectral), a violência por sua vez, é sublime.
Violência, alias, que usa da mesma cinética de "300"(2007), outro trabalho de Syder e adaptação perfeita e literal de "300"(também editada no Brasil como "Os 300 de Esparta"), de 1998, do gênio da nona arte (ou ex-gênio se considerarmos seu trabalho atual) Frank Miller e com cores de Lynn Varley.
Bem, se voltarmos mais, a mesma cinemática - a câmera lenta que acelera subitamente, por exemplo - , porém com menos refinamento, também é usada tendo os efeitos especiais simples junto aos hábeis dublês do JAC (Japan Action Club, hoje JAE: Japan Action Enterprises) nas cenas de ação da série "Google Five"(Dai Sentai Goggle Five,1982-1983,50 episódios), da Toei.
É inescapável as mudanças no sentido de transposição, em especial nos unformes dos vigilantes, que não seguem a risca os vistos na HQ. Esta modificação se mostra muito sensata se o que se quer ver beire as raias do real, é mais ou menos como o que se fez nos filmes dos X-Men, não acredito que alguém, no exercício de sua sã consciência, acreditava que aquele colante amarelo do Wolverine funcione fora da dimensão 2D dos quadrinhos.
A metade final, devido as mudanças, são as mais dignas de longas discussões. A exclusão dos criados norte-vietnamitas de Veidt, bem como a supressão do drama da biosfera, muito embora Snyder saiba ter compensado com as figuras de três cientistas de feições orientais, é no mínimo um remédio para sua perda de impacto .
Bem como  luta de Coruja e Rorschach contra Ozymandias no refúgio antártico, o aparecimento de Manhattan e Espectral após a breve excursão em Marte, e o tiro de Laurie em Ozymandias.
De minha parte, considerei elogiável o testemunho do Coruja (um dos pontos altos da interpretação de Patrick Wilson) sob os momentos finais de Rorschach, bem como sua ira solta em Veidt, confesso que não sei como Gibbons não pensou no último desenho escarlate de Rorschach na neve em frente a Nova Karnak.

Sempre sonhei com o final de Watchmen, imaginava longas cenas sem trilha sonora, apenas com o som do vento levando os jornais com o dizer "Guerra" bem visíveis, indo da cruel e sanguinolenta mortandade do Pale Horse, passando pelos corpos espalhados pelas ruas destroçadas e salpicadas de um inusitado líquido verde saído de estranhos tentáculos, enquanto se ostenta no Cine Utopia o anúncio do clássico "O Dia em que a Terra Parou"(The Day the Earth Stood Still,1951), até que a câmera para e um efeito sonoro similar ao que anunciava os tripods da versão de Spielberg de "Guerra dos Mundos" paira sobre a aterradora criatura de Veidt; que passa a dar sentido quase literal ao título do filme do talentoso Robert Wise (1914-2005).


Não tive meu sonho concretizado, uma das divergências no roteiro dos competentes David Hayter e Alex Tse - envolvidos a uma década na produção do filme e que tiveram seu roteiro lido por muita gente, inclusive por Alan Moore, que disse: "provavelmente a coisa mais próxima de um filme de Watchmen possível", - e vindo do temperamental barbudo britânico, pode ser considerado um grande elogio - e com a HQ envolve o produto bruto do embuste global de Veidt. No entanto, tenho que admitir que o malogro mundial em cima do Dr. Manhattan, com a bomba que simula seus poderes, pode ser considerada por muitos uma saída elegante e que mantem a integridade ideológica da obra. Esse ponto especial, com a retirada do "alienígena", que é um detalhe cheio de significado e simbolismo, mostra definitivamente que Watchmen - O Filme não capta todo o potencial da HQ e que talvez Snyder não tenha entendido a obra e sim ser uma das pessoas que acreditam que entendem a obra.
A grande contribuição do estilo Hollywood ao imaginário do leito frequente de Watchmen é o espancamento de Ozymandias por Coruja do Noite, os estúdios hollywoodianos não encaram bem essa de vilões se dando bem, a fúria de Dreiberg e seu discurso sobre a nova humanidade idealizada por Veidt se trata de uma saída muito bem engendrada para a questão, ouso dizer que foi um ponto para o filme em relação a HQ.
A divergência segue com Dreiberg e Laurie, diferente das novas identidades vistas na história original, a dupla do filme segue com a simples fuga,
, ponto para Carla Gugino no papel da antiga super-heroína, ofuscando o resto do elenco em cena, com cenas acertadas de uma heroína aposentada e mais enxuta que a sua contraparte nos quadrinhos, na verdade pensei na expressão "dando mais caldo que galinha velha"(a diferença das atrizes que encarnam as Espectrais é de apenas 7 anos).
O impacto sobre a sequência do pobre Seymour(Chris Gauthier) catando o diário de Rorschach no Arquivo dos Doidos enquanto suja sua camiseta com um smile com catchup se mantém.
Após a conclusão do filme a 20th Century Fox, como um dos estúdios com mais fascistas, incompetentes e se aproveitando de estar baseado no país com o maior número de gente vivendo desonestamente (advogados), entrou com processo contra a Warner Bros. O motivo é que a Fox tinha os direitos de adaptação de Watchmen, mas como a empresa que seria responsável por sua produção faliu os direitos passaram ao produtor Lawrence Gordon. Ele, por sua vez, entrou em acordo com o estúdio de que pagaria os direitos caso conseguisse que o filme fosse realizado.
O processo foi julgado, dando o direito à Fox de distribuir o filme nos Estados Unidos. Com a ameaça de adiamento de sua estréia, marcada para 6 de março de 2009, a Warner entrou em acordo com o estúdio e pagou em torno de US$ 10 milhões, além de participação de 5 a 8% na receita do filme e também em qualquer sequência ou filme derivado de Watchmen.
Snyder, a moda dos Watchowski com V de Vingança, conseguiu uma nova onda de interesse pela HQ original tornando muito visível um culto que era até então desconhecido pelas massas não leitoras de quadrinhos, fenômeno exteriorizado pelas pichações, outrora restritas as páginas da HQ.
Algumas destas pichações, muito bem arquitetadas como estas em Toronto (contando, inclusive, com um anúncio de Veidt):
Enquanto Alan Moore não vira patrimônio oficial da Grã Bretanha, esta laureia seu maior trabalho com o "Watchmen’s Day"(06-03-2009), com direito a projeções laser sob o Tâmisa:
Diga-se  de passagem, os ingleses adoram projeções sob o Tâmisa, em 2008 o olho de Thundera apareceu em comemoração do lançamento do box dos Thundercats nas terras da inútil família real.
E, como tudo que rende dinheiro, Watchmen foi, e é, alvo de um variado merchandising, além do citado livro de Gibbons, como o game "Watchmen: The End Is Nigh"(2009), da desenvolvedora dinamarquesa Deadline Games A/S,
um advento inesperado de uma série de sátiras tardias,
e tudo o mais que a imensa criatividade capitalista é capaz de produzir.
É até possível especular o que o Comediante teria visto na ilha (este "insight" abaixo é do http://www.mindspring.com/~tgordo/blogola.html).
Meu preferido nessa onda de supérfluos (como disse Oscar Wilde, "Se me derem o supérfluo dispenso alegremente o essencial") é a arte retrô de Dave Perillo para Watchmen.
É certo que Watchmen agora faz parte do cotidiano, vide o caso da desembargadora federal Maria Helena Cisne, do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, usou a frase mais conhecida de Watchmen como epígrafe do texto da decisão que culminou na prisão de 15 pessoas acusadas de envolvimento em crimes eleitorais no Rio. A frase "Who watches the Watchmen" foi citada em inglês na abertura do documento, datado de 27/8/2008 .
Na epígrafe do parecer, a estudada desembargadora citou ainda um trecho do livro "O Poderoso Chefão"(The Godfather,1969), de Mario Puzo(1920–1999) , e a poesia "Carta aos 'puros'"(1955), de Vinicius de Moraes(1913-1980).
Um caso pessoal desta onda de popularidade de Watchmen, ocorreu em um dos grandes eventos culturais, o Anime Extreme 2009 (Porto Alegre,18 e 19 de Abril), em que um bom cosplay do
"Soldado Invernal"(Winter Soldier,2005-), a recente encarnação do outrora primeiro parceiro do Capitão América (e que enverga o escudo como sendo o Capitão América do pós Guerra Civil), James Buchanan Barnes o "Buck"(1941-). No evento o Soldado quase perdeu sua pose soldadesca profissional quando o reconheci como sendo o ex-Bucky e desabafou que o estavam confundindo com o Comediante.
Mesmo sendo quase tão esteticamente literal quanto 300, Watchmen é mais complexo que ele, com uma miríade de tramas e consequentes dilemas, diferente do pronto entendimento atemporal do ocorrido nas Termópilas.
Infelizmente o "Sin City"(2005), de Frank Miller, Robert Rodriguez e Quentin Tarantino não é uma regra as adaptações cinematográficas.
Watchmen pode não ser o "Cidadão Kane" das adaptações, mas agora é vertente nos diálogos de um cotidiano maior do que o círculo de fãs leitores.
Parafraseando os inteligentes comentários do site Omelete(http://www.omelete.com.br/):
"Este é o valor de Watchmen, embora possa parecer estranho para quem não se interessa por super-heróis, certamente transcende os círculos de seu meio, como demonstração do pináculo do talento artístico na criação de uma verdadeira obra-prima literária. Mesmo que esteja disfarçada com roupas coloridas e cuecas por cima das calças. "
Nunca seria capaz de dizer algo melhor, e é quase tudo que eu sempre quis falar.


Até mais e que a força esteja com você.

4 comentários:

Bier disse...

Muito bom, Andrezinho.
Estou lendo essa fantástica coleção do Watchmen graças à tua colaboração.
Tem sido realmente muito bom.
Ler essa sua postagem me ajudou pacas em nível de inpiração.
Só que (como lhe disse certa vez) você tem aberto muitos "parênteses" entre os assuntos. Você tem coerência central, mas a leitores menos assíduos, a leitura deve se tornar cansativa.

No mais, é um ótimo texto.

Bier disse...

Meses após a leitura deste post, aqui me encontro de novo.
Li esta noite, cerca de 1h atrás a última edição de Watchmen e corri até aqui, pra reler tudo. (Afinal, minha memória precisa ser treinada!)
Vamos a algumas conclusões:
1 - Sim, eu preciso ver esse filme!
2 - Venha assistir comigo.
3 - Muito bom texto, como o usual, meu amigo!

Estava relendo, relendo,relendo, voltando alguns parágrafos... e...
YEAH! Grande Andrezinho!
Semana que vem estamos aí... vamos conversar mais sobre esse universo dos heróis que não são super, ainda assim, muito HERÓIS!

Abraço!

Andrezinho "a Mochila" disse...

Com essa, quase chorei.

Unknown disse...

Eh, cara. Hehe, nem sei o que dizer depois disto tudo..

Uma excelente pesquisa, ótimas imagens, um texto muito bem elaborado, com uma linguagem feita para Leigos, se assim posso dizer. huashuas

Mais como o Bierzudo disse, Alguns excessos de informação em alguns lugares, acabaram por me atrapalhar e me fazer reler o parágrafo. =D (levei uns 7 dias para ler tudo =)).

Bom acabei chegando aqui pelas mãos do Bier, logo após comentar com ele, que havia acabado de ler uma ótima resenha sobre o filme. Da mesma forma que eu discordava de alguns pontos lá, por exemplo a trilha sonora, foi ótima, apesar da música "Hallelujah" na cena de sexo entre Coruja e Espectral, Na verdade ficou legal, engraçado. Mais, acho que ridicularizou o que o Alan queria passar..

Voltando à tua resenha.. Cara, apesar de ser adorador das HQs e Graphic Novels, não posso ler todas.. então em alguns pontos, fiquei meio perdido.. Finalizando, ótima.. =) muito boa. Parabéns. =D

Henrique

Post Scriptum: Espero que não se importe com a desorganização do comentário.. Não consigo escrever de outra forma. =D

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