quinta-feira, 2 de abril de 2009

Já se foi o disco-voador (mesmo).


Finalmente assisti a segunda investida de Mulder e Scully no cinema, e vi que se você ainda está devendo 14 meses de aluguel desde o primeiro post "Já se foi o disco-voador" pode ter a conveniência de deixar a porta do banheiro destrancada.

O disco-voador não volta tão cedo, ou não é capaz de notar o que está a sua volta.

"Arquivo X: Eu Quero Acreditar"(The X-Files: I Want to Believe,2008), do mesmo Chris Carter, o Grande Morcego da Conspiração dos anos 90, se mostrou completamente desnecessário.

O caso das mulheres raptadas e a ajuda de um padreco que pode ajudar a encontra-las com supostas visões não é lá essas coisas, talvez se fosse um dos episódios dos tempos aúreos teria funcionado pois não tem muito apelo, o mesmo pode ser dito do padre e suas visões.

O caso como do filme uma equipe C.S.I. seria o suficiente mas é possível que o ritmo um tanto insosso, descompassado e mais lento do que deveria (talvez planejado por algum caloteiro devedor de aluguel) atrapalharia a investigação.

O filme serve mais para ver o que aconteceu com a dupla de agentes, agora ex-agentes,
aparentemente os dois juntaram os trapos, Mulder passa o tempo em casa procurando o que fazer e cultivando uma barba para talvez fazer um cosplay do "O Grande Lebowski"(THe Big Lebowski,1991), de Joel Coen,


enquanto Scully trabalha em um hospital ligado a igreja para quem sabe reavivar sua carreira em um futuro retorno de "Chicago Hope"(1994-2000,141 episódios), de David E. Kelley.


Scully continua a mesma cética cristã(como alguém pode ser cético e cristão ao mesmo tempo?) e Mulder...bem continua Mulder. Algumas poucas referências como as citações de Clyde Bruckman, do episódio "O Repouso Final de Clyde Bruckman"(Clyde Bruckman's Final Repose,1995)

, o polêmico filho de Scully, Willian, e a finada infante Samantha Mulder.

Também se destacam a pequena participação do diretor-assistente Walter Skinner, o ator Mitch Pileggi, assim como Gillian Anderson, devia estar com alguma conta atrasada (talvez 14 meses de aluguel) para querer participar do enterro definitivo do velho fenômeno que foi Arquivo X,

acredito que David Duchovny foi o único que atuou por alguma consideração aos colegas ou ao seu personagem, já que está se saindo bem como o escritor de um único livro e sem inspiração em "Californication"(2007-), de Tom Kapinos. Também parece ser em parte culpa de Duchovny, que queria um filme sem aliens e sem transposição de episódios para a telona,em entrevista a Folha de São Paulo(publicada em 25/07/2008) diz:
"Quando lançamos 'Arquivo X - O Filme', fomos instruídos a dizer que quem não era fã da série entenderia tudo, que era uma obra para todos. Mentira, não era coisíssima nenhuma! Quando conversei com Chris e disse que queria muito fazer o Mulder novamente, deixei claro qual era minha maior exigência: que 'Eu Quero Acreditar' fosse, de fato, um filme para todos, sem discos voadores, sem ETs, sem nem mesmo começar com o fim do anterior. Esta é a mais pura verdade, a não ser que eu esteja mentindo novamente, claro".

Devo dizer que a atitude de Duchovny deixou este Skinner tão perdido quanto aquele outro Skinner quando fica na presença do superintendente Chalmers.

Confesso que até tive esperança na cena em que Scully encara uma foto de George W. Bush

e Mulder uma de J. Edgar Hoover(sem as roupas femininas) e depois se encaram em silêncio, creio que foi o único momento, junto da trilha sonora de Mark Snow, que parecia a boa mídia de outrora. Acreditava (o meu I Want to Believe) que o vasto material conspirativo dos tempos da guerra ao terror e dos Atos Patrióticos seriam especulados, mas nãaaaao...

toda a conspiração do tempo corrente foi deixada para o Questão.

poderia ter sido um novo e necessário "Teoria de Conspiração"(Conspiracy Theory,1997), de Richard Donner, adaptado para esta década cheia de segredos e mentiras, no entanto, não houve um mínimo de envolvimento sujo do governo,

nenhuma menção no filme todinho - e digo que esta é a época para isso, ou era no ano de lançamento do filme, ano em que Steve Carell nos extras do DVD da adaptação de "Agente 86"(Get Smart,2008), de Peter Segal, diz saber por que o mundo não gosta dos Estdos Unidos. Tipo: Até o novo agente 86 sabe que tem coisa muita errada -.

A nova guerra ao terrorismo, que substitui em definitivo a Guerra Fria - e que provavelmente vai durar mais que ela - representam os novos tempos em que ninguém é confiavel e a verdade anda sob disfarces inusitados.

Fato que é belamente mostrado em filmes com o ótimo "Rede de Mentiras"(Body of Lies,2008), de Ridley Scott, baseado na novela homônima do colunista David Ignatius lançada em 2007

, ou o "Top Gun" europeu, a boa película francesa "Os Cavaleiros dos Céus"(Les Chevaliers Du Ciel,2005), de Gérard Pirès.

O que Duchovny e Carter não souberam fazer foi usar o fato de mesmo sem discos voadores a verdade continua lá fora, que a sujeira humana é vasta e que investiram em um argumento insípido em cima de uma das frases mais icônicas da série.

O policial "Código para o Inferno"(Mercury Rising, 1998), de Harold Becker,

baseado no livro "Nome de Código: Mercúrio"(Simple Simon, 1996), de Ryne Douglas Pearson, foi um filme que este Arquivo X poderia ter sido.

Me surpreende que diante de tantos equívocos não tenham chamado o agente John Doggett para que com Skinner impedir a virada da canoa de Carter.

É trágico que tenha acabado assim, parece que o caloteiro não precisara usar seus subterfúgios por um bom tempo.

Não sobrou nenhum resquício da velha mitologia, que também poderia ter entrado em voga, e enquanto isso o criador de Lost, J.J. Abrams secretamente assiste reprises de Arquivo X para poder ter mais idéias para sua série "Fringe"(2008-).

O disco-voador teve uma chance de retomar as rédeas, e a chance foi perdida de forma quase patética. Talvez tenha sido mais um subproduto desta época sem criatividade, de remakes inúteis, adaptações prontas e repleta de gente fazendo bobagem.

Não dava mesmo para esperar que Mulder e Skully nos salvassem das corroídas novas velhas mídias, e que o disco voador tivesse sucesso, bem... por algúns instantes eu quis acreditar.

Talvez tenha sido mesmo o melhor vender a vila para o Carequinha.

Até a próxima e que a força esteja com você.

1 comentários:

Bier disse...

Pois é, Andrezinho...
Uma pena... os fãs estavam esperando tanto pelo filme... e o Sr. David pediu pra que o filme não fosse uma coisa tao Arquivo X assim...
Aí ferrou.
Eu tenho lamentado pq... mesmo que eu tenha curiosidade, temo não estar valorizando meu tempo.
Um abraço.

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